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Mostrando postagens de julho, 2014
QUANDO O REFLEXO NA JANELA DE UM ÔNIBUS VELHO E SUJO REVELA A SUA VIDA SEM VOCÊ DESEJAR. SEM VOCÊ DESEJAR... Manhã de segunda feira de julho em São Paulo. Maldita manhã de segunda feira em São Paulo. Em qualquer lugar do mundo. Maldita manhã de segunda feira em qualquer grande cidade de qualquer lugar do mundo. Manhã de segunda feira cinza, chuvosa e fria. Muito fria. Fria demais. Ninguém, mas ninguém no mundo merece uma segunda feira de manhã cinza, fria e chuvosa demais. De verdade. Do fundo do meu coração não desejo isso a ninguém. E, de bobeira, em um ato de verdadeira idiotice, percebi o reflexo do meu próprio rosto na janela do ônibus em que eu estava e que rasgava insano, em alta velocidade, aos trancos e barrancos e sem medo, a Avenida Francisco Matarazzo, zona oeste de São Paulo. E fiquei perplexo com a pequenez do que vi. Perplexo. Perplexo demais com tamanha pequenez. O que vi não ajudou em nada a minha vida, a minha esperança, a minha perspectiva de um f

O AMOR SÓ É BOM SE DOER?

- Como assim? – ele perguntou surpreso. Ela o olhou com dó, com pena, com compaixão, com sinceridade. Sentimentos à parte. Não respondeu. Nada. Melhor assim. - Como assim? – ele insistiu. - Como assim o quê? – ela perguntou, tentando disfarçar o indisfarçável. Tentando evitar o inevitável. - Como assim, porra? Como? – ele perguntou novamente, agora visivelmente bravo. - Assim. Simples assim. - Assim? – ele insistiu incrédulo – Assim? Você não me quer mais e diz isto desta forma. De cara seca e lavada. Simples assim? Ela tomou um gole do seu copo de vodka e apenas o encarou. Preferiu o silêncio. - Assim? – ele disse surpreso. - Assim. Simples assim. Apenas isto. Agora vamos ter uma conversa normal ou você prefere ficar neste diálogo insano e infantil? – perguntou ela após “matar” o resto da vodka em seu copo americano. Ele suspirou e disse com fina ironia – Você é engraçada. Engraçada demais eu diria. Engraçada demais. Ela o olhou com um misto de curiosidade e pe

SORTE OU AZAR?

Sorte? Azar? Erros? Acertos? Signos? Crenças? Nada disso. A vida dela era um eterno confronto entre o bem e o mal. Entre a sorte e o azar. Entre erros e acertos. Entre o lado ruim e o lado bom. Dualidades. A vida dela. O resumo da vida dela. Um breve e apertado resumo. Sorte? Azar? Erros? Acertos? Signos? Crenças? Nada disso. A vida dela era um eterno confronto entre ela e ela mesmo. Apenas isto. Nada demais. Nada demais. Nada do que já não se viu por aí. Aos montes. Aos montes. - Qual o seu signo? – ela perguntou temendo ser tola ao cubo. - Câncer – ele respondeu acreditando na sua tolice ao cubo – Isto faz alguma diferença? – provocou. Ela sorriu e disse – Claro que não. Claro que não. Adoro homens de câncer – mentiu. - É? – ele perguntou incrédulo – E quais as qualidades deles? Dos homens deste signo? Ela sorriu sem graça e respondeu direta e reta – Nenhuma. Nenhuma. Precisa ter alguma? – perguntou – As qualidades aparecem – finalizou. Ele apenas

CAFÉ RALO

Alta madrugada. Chovia demais. Muito mesmo e ele, bem, ele estava em um bar qualquer no centro velho da cidade. Sozinho para variar. Sozinho naquela alta madrugada. Sozinho, como sempre. Sozinho como nos últimos dias, nos últimos tempos, nas últimas noites. E chovia muito lá fora e ele apenas deixava o tempo passar observando a xícara lascada à sua frente com um café vagabundo, morno e rarefeito que ele conseguia engolir apenas pelo vício inexplicável em cafeína. Cafeína e cigarros. Sem mais álcool ou qualquer outra forma diferente de fugir. Apenas cafeína e cigarros. Foi o que restou. E ele estava em um bar qualquer no centro da cidade. Insônia pesada e ele, tolo, apenas AINDA insistia em pensar no que fazer, para onde ir, como conseguir consertar as coisas que quebrou ao longo do tempo. Bobagens cotidianas que não pagam as contas (muitas, aliás) e não resolvem porcaria nenhuma na vida de um sujeito normal. Sérias bobagens cotidianas. Falar em sair do buraco é fácil. Difícil é realm

CHUVA ÁCIDA.

Quatro e meia da manhã. Quatro e meia da manhã de mais uma quinta feira. Quatro e meia da manhã. Madrugada quase no fim. E chovia demais naquela madrugada. Chovia demais. Muito. Muito mesmo. E ele, pobre tolo, imbecil sem rumo, apenas restava parado em pé na esquina daquela rua de bairro, rua tão deserta àquela hora da madrugada. Estava completamente ensopado, totalmente molhado. Completamente ensopado dentro do seu casaco sujo cor cru. Um totem de estupidez. Ele parecia um totem de estupidez, erguido por algum ser insano em homenagem aos otários e imbecis da madrugada. Um totem fixado bem embaixo daquela marquise decadente em neon anos oitenta daquela padaria tão estúpida. Tão estúpida e ridícula. Completamente molhado em seu casaco sujo cor cru. Os seus dedos úmidos tentavam com dificuldade acender mais um cigarro. Apenas mais um cigarro. O décimo quinto daquela madrugada. A marquise protegia um pouco da água espirrada pela chuva, mas o vento não. De