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Mostrando postagens de março, 2014

CARNAVAL NO TÚMULO DO SAMBA

- Você gosta de confetes, não? – ele perguntou sacana. Ela apenas respondeu com um sorriso e concordou com a cabeça. Tomou um gole da sua cerveja e nada disse. Ela era linda. - Você é um enigma – ele disse – Me faz gostar de MPB, me faz querer entender MPB, ouvir coisas que eu nunca ouvi ou nunca quis ouvir antes, me faz TENTAR não ter medo de espíritos, orixás, entidades, ou whatever. Você me fode. Me fode demais, sabia? Não sei em qual cilada caí – brincou. Ela respondeu com um sorriso ainda maior. Estava feliz demais. E o Clube Varsóvia estava lotado. Lotado demais. Lotado de não amantes do carnaval. Lotado de corações solitários e também, como não, de corações apaixonados. - Sabe de uma coisa? – ela perguntou séria, com um lindo sorriso no rosto. Ela brilhava demais. - Diz – ele respondeu curioso – Pode dizer. De você espero apenas delícias, coisas boas e palavras de afeto. Do contraio não diz nada. Manda. Manda ver. Beijos e balas trocadas não doem – ele brincou.

CARNAVAL, REVEILLON E MPB

Ela gostava de MPB. Ele não. Ela acreditava no além. Ele não acreditava em nada além dele. Ela gostava de tudo, menos de Elis Regina. Ele gostava de tudo, mais de Ramones. Ele a amava. Ela também. Ele não sabia nada. Ela o ensinou. Ele aprendeu. Eram duas figuras totalmente diferentes uma da outra, porém muito iguais. Esquisito não? O destino existe? Será? - Você me ama? – ele perguntou inseguro demais apesar da sua idade, segurando-a pelos seus ombros largos e deliciosos com paixão e muito tesão. Com muita paixão e muito tesão. Amava (ela e os seus ombros desnudos). Ela sorriu. Muito mais nova que ele, muito mais nova que ele, porém muito mais madura, com certeza – Claro. Claro que amo, seu bobo. Ele chorou. Ela sorriu. Sorriu e secou as suas lágrimas. - Não chora – ela pediu – Por favor. - Não consigo – ele respondeu. - Não? – ela insistiu dando-lhe um beijo carinhoso e delicado em seu rosto – O amor existe, seu bobo. Bast

AMORES E AEROPORTOS

- E você sabe me dizer como isso vai funcionar? – ela perguntou a ele, com um aperto no peito, com uma agonia imensa, logo após se abraçarem e se beijarem loucamente naquele frio e triste saguão de aeroporto. Ele sorriu. Nada disse. - Não sabe, né? Seu filho da puta – ela disse – Sabia que você não sabia – ela insistiu dando-lhe um leve soco no peito. - Sei, claro que sei – ele respondeu seguro e prosseguiu – Vamos ser muito felizes. Muito felizes. Não importa se estamos neste exato momento em um saguão de aeroporto nos despedindo, insanos e loucos de amor esperando a próxima vez de nos encontrarmos. Não importa. Eu amo você e você me ama. Isto é suficiente para muita coisa, não acha? Para muita coisa. Ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas – Detesto despedidas. Detesto você – brincou. Ele sorriu um sorriso ainda mais largo e feliz. - Também estou triste para caralho – ele disse – Mas, pensa, foi bom este final de semana, não foi? – perguntou. Ela o beijou de uma fo

SOME GIRLS ARE BIGGER THAN OTHERS

- Um brinde – disse repentinamente Leticia à Estela, levantando a sua taça repleta de vinho. Estela a olhou de forma curiosa e divertida e levantou também a sua taça de vinho – Um brinde – repetiu. - Um brinde às melhores amigas do mundo – disse Leticia – Que somos nós, afinal – completou. Estela riu da besteira da amiga já visivelmente “alta” pelas doses de vinho e concordou com a cabeça – Sim. Um brinde às melhores amigas do mundo – concordou Estela – Que somos nós – emendou rindo. - Ah, e um brinde ao Edu. O gênio que te tirou de mim – emendou irônica. - Pára Leticia. Você sabe que não é verdade – disse Estela. - Claro que sei, claro que sei. Estava apenas brincando. Brincadeirinha boba – sorriu. - Boba – respondeu Estela, logo após um gole do vinho e um Marlboro aceso. - Você vai sentir a minha falta? – perguntou Leticia, de forma abrupta, logo após tomar um longo gole do vinho em sua taça e, também, acender um cigarro. Estela olhou-a curiosa, sem enten

O MAIOR E ADORÁVEL MISTÉRIO DO DECOTE

Noite. Noite quente em terras distantes localizadas ao sul do país. Noite de verão. Quente. Muito calor. Muito suor. O toque suave das mãos quentes dele no seu corpo gelado típico do sul do país a derreteu. Completamente. Totalmente. De uma forma devastadora. De uma forma inexplicável. Inexplicável mesmo. Como uma paixão adolescente incontrolável e indefensável. Como uma paixão sem limites e sem consequências. Adoravelmente irresponsáveis. Ambos. Como uma canção de amor dos anos setenta. Cafona, forçada, porém bela e apaixonada para quem ama. Bela e muito, mas muito apaixonada para quem ama e entende. Como se Barry Manilow cantasse só para ela ao pé do seu ouvido e isso fosse realmente importante. Arrasador. Um knock out. O toque suave das mãos quentes dele no seu corpo gelado típico do sul do país a desmontou. Absolutamente. Totalmente. Ela derreteu como mel. Mel puro. Mel delicado de uma cor viva e saborosa. Brilhante. Aroma delicado. Ela derreteu e escorreu como mel. Lovely Bee Mo

PELE

“pele substantivo feminino ( 953) 1 camada externa que limita o corpo de um animal, esp. quando forma uma cobertura macia e flexível 1 . 1 anat órgão que envolve o corpo dos vertebrados (incluindo o homem), composto de três camadas (epiderme, derme e tela subcutânea ou hipoderme), com função esp. protetora, termorreguladora e captadora de estímulos dolorosos e táteis ...” (DICIONÁRIO HOUAISS) ... Pele? Sim, a pele. Objeto de desejo. Desejo do toque. Doce desejo. Doce prazer. Toque com desejo. Toque com prazer. Com muito prazer. Muito mais do que descreve e ensina o dicionário, muito mais do que descreve e ensina a letra fria impressa no dicionário, pele é cheiro, pele é perfume, pele é suave, pele é lisa, pele é doce, pele é a antena do coração para o prazer ou a dor. Para o prazer ou a dor, mais prazer, de preferência. Muito prazer. O coração agradece e bate feliz. A pele, como ensinou Houaiss, é o órgão captador de estímulos dolorosos e táteis. E o início

LÍNGUAS

“língua substantivo feminino ( 1152) 1 anat órgão muscular recoberto de mucosa, situado na boca e na faringe, responsável pelo paladar e auxiliar na mastigação e na deglutição, e tb. na produção de sons ... Etimologia lat. lingŭa,ae 'língua como membro ou órgão animal, língua como órgão ou faculdade da palavra e da fala, linguagem, idioma de um povo', p.ana., 'nome de plantas, instrumentos etc., comparáveis visualmente'; voc. de fonetismo semiculto, o port. língua conviveu com as var. ant. lengua e lenga , nos sXIII e XIV; ver lingu(o)- ; f.hist. 1152 lingua , sXIII lingua , sXIII lengua , sXIV lenga , sXV lingoa ” (DICIONÁRIO HOUAISS) ... Língua? Sim, língua. Objeto de desejo, objeto de paixão e objeto de vontades. Muito mais do que descreve e ensina o dicionário. Muito mais do que descreve e ensina a letra fria impressa no dicionário. A língua é vermelha, cor viva, cor de sofás, cortinas, vestidos, bochechas envergonhadas, velas aromáticas,

ASTRONAUTAS

Eles flutuavam no espaço, sorrindo. Eles flutuavam no espaço, sorrindo como dois bobos sem motivo aparente. Descobriam os sentidos e impressionavam-se. Dançarinos com movimentos leves, bailarinos com movimentos suaves. Movimentos lindos. Movimentos nada tímidos. Movimentos nada tímidos, definitivamente, praticados com afeto e ternura na ausência da gravidade. Gravidade zero. Eles flutuavam no espaço como dois adolescentes inquietos. Dois adolescentes felizes, alegres, irresponsáveis, adoráveis e apaixonados. Beijavam de forma aleatória e seus corpos, leves, faziam acrobacias de amor. As mais belas e perfeitas acrobacias. A sincronia dos corpos e do amor. Não havia nada além da falta de gravidade, dos corpos flutuando no espaço, do excesso de amor, da intensa paixão, do delirante tesão e da Lua, linda, bela, amarela e indiscreta a os observar. As estrelas brilhantes, coitadas, invejavam o que presenciavam. Eles dançavam a mais bela das danças: a dança da cumplicidade. Seus corpos suado

O VESTIDO LILÁS

Eles moravam em lugares distantes um do outro. Muito. Muito distantes. Cidades diversas e longínquas. Dois Estados. Conheceram-se graças ao destino. A melhor forma de se conhecer, afinal. No entanto, a distância não era um problema para os dois. Definitivamente não era um problema algum. Eles se gostavam como raros meninos e meninas se gostam. Coisa pouco usual de se ver. Coisa pouco usual de se vivenciar de sentir. Certo dia, ele recebeu uma foto dela pelo correio. Ficou surpreso com a beleza do que viu. Ele já a tinha visto, claro, mas ela estava linda, linda demais, casual e vestida com um vestido de verão lilás com pequenos detalhes em verde. Um vestido para provocar. Um vestido de verão para colos lindos como o dela. Para poucos decotes privilegiados e poucos seios deliciosos. Como os seios dela. Vestido lindo. Lindo vestido lilás. E ele enlouqueceu. Não acreditou na perfeição da foto e nos detalhes incertos do que ele NÃO via além do vestido. O desenho que alguém fez dela. Como

CORTINAS VERDES

Ela o puxou pelo braço com um sorriso meio malvado e muito apaixonado e abriu a última porta do apartamento. - Pronto. Este era o cômodo que faltava você conhecer. Gostou do apartamento? É pequeno, porém eu gosto – perguntou ansiosa. Ele abriu um enorme sorriso e disse – Ah, é o seu quarto? Adorei. Adorei muito o seu apartamento, principalmente o sofá vermelho da sala e estas cortinas verdes aqui no quarto. Lindas. Ah, e também amei aquele pequeno móvel antigo ali ao lado da cama, perto do armário branco – disse apontanto para um móvel bastante colorido, cheio de pinturas simbólicas e rústicas em azul e verde - Onde, suponho... – ele prosseguiu – Você deve acender as suas velas aromáticas, - que, por sinal, já estão acesas - os seus incensos, fazer seus pequenos rituais de paz e, enfim, colocar o seu Ipod para ouvir determinadas canções românticas enquanto sonha na cama. Sorriu.   Ela o olhou com intensidade. Ele tremeu de nervoso e disse – Tem cheiro de jasmim este quart

TAXIS, FLORES VERMELHAS E SORRISOS

O taxista resolveu, meio que do nada, parar no boteco sujo no centro da cidade para tomar um café preto quente e animador. Queria acordar, pois a noite estava foda e ele estava exausto para caralho e ainda precisava ganhar uma grana. Precisava pagar a diária e a gasolina e a noite daquele sábado precisava inteirar o seu domingo. Noite de sábado sempre foi para faturar e a madrugada ainda era alta. Bastante alta. Hora de a molecada sair das baladas com muito álcool e aditivos na cabeça, sem condições de dirigir. Táxis fundamentais nesta hora. Fundamentais mesmo. Sentou junto ao balcão, e, cansado percebeu pelo espelho à sua frente uma garota linda, ruiva, sentada ao seu lado. Ela chamou a atenção, pois não tinha absolutamente nada a ver com aquele boteco sujo do centro da cidade. Nada. Ele ficou quieto e nada falou. Pediu o seu café ao balconista sem NENHUM açúcar para continuar acordado até o amanhecer. Ficou calado e percebeu simples, e após alguns instantes, que a moça ruiva próxim

DESENHO

- E se você desenhasse? Apenas desenhasse com carvão ou giz de cera ou lápis de cor em um papel vagabundo qualquer? Pode ser papel de pão – ela perguntou com um brilho maligno e sacana estampado no seu adorável olhar castanho. Adorável olhar castanho. Ele engoliu em seco e nada disse. Ficou tímido. - Ficou mudo? – ela insistiu - Desenhar? Sabe o que quer dizer? Se não consegue falar, escrever, tocar qualquer instrumento, talvez você possa desenhar. Nunca vi uma porra de um escritor não saber escrever. Foda não? Limitações são realmente frustrantes – ela provocou – Precisa desenhar então que desenhe. Apenas desenhe. Não resta qualquer outra possibilidade ou alternativa ao senhor. Não disse que não entendo nada? Porra nenhuma? Que você precisa “desenhar”? Vai lá – provocou. - Você é uma tremenda filha da puta – ele esbravejou - Vai provocando, vai - ameaçou sem a menor ameaça. Um bobo. Um tolo. Ameaça de um menino bobo e velho. Ela sorriu. Ele tremeu. - Vamos lá. Entã

BOM ESCONDER O CHORO DEBAIXO DA CHUVA

Tempos difíceis. Tempos difíceis para caralho. Nada dava certo. Absolutamente nada dava certo para ele. Porra nenhuma. Por todos os caminhos e direções que ele tentou seguir as coisas iam mal e ele quebrou a cara. Tudo muito mal. Muito mal. Tudo errado como se fosse a porra de uma praga, como se ele, ateu, acreditasse nisso. Praga de alguma ex-namorada a quem ele fez muito mal e partiu o coração ou, simplesmente, azar puro mesmo. Puro azar. Contas, contas e mais contas. Brigas, pentelhações, idade, bebibda, vícios, chatice, enfim, tudo na direção contrária. Curioso, não? E ele, ainda assim, tentava acertar. Com uma mira de bêbado, com uma mira de um velho bêbado. Mas, pobre diabo, ele ainda tentava acertar. Sem grana para o aluguel, sem grana para a bebiba, para os cigarros, para a garota do outro Estado que ele curtia, para nada. Mas, imbecil, ele ainda assim tentava acertar. Inútil. Nada dava certo. Nada mesmo. Por todos os caminhos e direções que tentava seguir as coisas iam mal. M

AZULEJOS DE VELUDO

- Você gosta de umas músicas estranhas – ela disse, sem crítica, sem censura, mais em um tom de constatação. Um tom de realmente entender quem estava ao seu lado - Não é possível não estar amando o que o DJ está tocando esta noite. Ele está perfeito como a lua cheia. Romántico, divertido, sarcástico, funny , alegre . Se, por acaso, fossem aquelas porras de bandas “chuvosas” da Nova Zelândia, você estaria vibrando. Mas como eu gosto né? Você fica aí bufando como um velho. - Ele apenas sorriu e concordou com a cabeça, impressionado em como ela a conhecia. - Você é bem estranho – ela brincou – Tenho medo de você. Não uma coisa “Jason Voorhes”, Sexta Feira Treze, mas tenho medo de você. Definitivamente. Ele deu uma gargalhada sonora com a brincadeira e disse – Medo? Medo de mim? Sou tão pura e sinceramente inofensivo – ironizou – Ninguém consegue ter medo de mim. Ninguém pode ter medo de mim. - Por isso mesmo o medo. Pessoas assim assustam. Freak boy. Medo de gostar mais de