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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

HEAVEN KNOWS I AM MISERABLE NOW

- O quê? – ele perguntou meio bobo, meio assustado. - Vamos? – ela insistiu – Vamos? Você sabe fazer o quê. Sofá vermelho, lembra? – ela provocou. - Lembrei daquela música dos Smiths – ele disse – Me deu medo - sorriu. - Qual? – ela perguntou surpresa. - What she asked me at the end of the day Caligula would have blushed. - Canalha – ela disse – Você è mesmo um babaca . Um tremendo de um babaca. - Sou nada. Sou romântico. Um dos últimos que existem. Um dos últimos espécimes de românticos que existem no mundo. Você não vai achar nada parecido no mercado. Por apostar. Pode apostar. - Presunçoso – ela afirmou – Idiota presunçoso - ressaltou. - Será? – ele provocou. Ela agarrou o seu pescoço e lhe deu uma dos maiores beijos que podia. Um dos maiores e mais apaixonados beijos que podia lhe dar. Sofá? Mais do que isso. O amor venceu mais uma vez e Calígula, coitado, ficou até encabulado...

MEDO

Ele tinha medo dela. Muito medo. Na verdade, ele tinha medo, porém não medo dela propriamente dita. Ele tinha medo dele mesmo. Medo de fazer as mesmas besteiras que fez no passado, medo de cometer os mesmos erros que cometeu no passado, medo de ela perceber o quão babaca ele era, medo de ela realmente perceber o que ele era. Um idiota. Um verdadeiro idiota e um estúpido sem autoestima. Um bobo inseguro. Ele tinha medo dela percebê-lo. Medo de falar com ela. Medo de ela perceber, no seu tom de voz, a sua insegurança. Medo de ela perceber, no seu tom de voz, sua falta de coragem. Ele tinha medo de falar com ela. Deus, ele era mais velho. Como uma menina, tâo mais jovem, tão menos vivida, porém não menos experiente, podia desorientá-lo assim? Ele não sabia. Apenas ficava ainda mais inseguro. Sentia apenas medo. Muito medo. E o suor frio, sempre, escorria da sua testa durante as madrugadas quentes de verão. Imbecil insone. Imbecil ínsone...   

TENHA UM BOM DIA

Ele mal dormiu. Mal dormiu. Quando acordou e olhou no espelho ficou assustado com as olheiras e o rosto inchado. Precisava trabalhar e se sentia um lixo. Caralho. Durante a madrugada, virou-se de um lado para o outro, de um lado para o outro, como um boneco, como se estivesse em um baile de caranaval. A noite toda. A noite toda. Suado, molhado, exausto, ele não conseguiu dormir. A sua testa (e o seu corpor) exalava calor. Não conseguiu focar no simples ato de dormir. Não. Nem fodendo. Pensamentos, pensamentos e pensamentos. Ah, malditos pensamentos, eles iam e vinham, infernizando e atormentando a sua noite. Pensamentos proibidos como se mãos invisíveis tocassem todo o seu corpo ao longo da madrugada. Ele delirou de prazer. Delirou. Sorria e esquecia, totalmente, de dormir. Queria um gole de vodka. “O esforço para lembrar é a vontade de esquecer ”, lembrou da canção. Ela estava lá. Ele tinha certeza. Naquele quarto. Seja em qual matéria, seja em qual forma, seja em qual estado, seja

SONHOS DE UMA MADRUGADA MOLHADA DE VERÃO

- Sonha comigo? – ele pediu quase tolo, quase infantil. - O quê? – ela respondeu – Pirou? O calor derreteu o pouco que resta do seu cérebro pequeno? – disse irônica. - Sonha comigo? Sonha? – ele pediu. - Como assim “sonha comigo”? Você acha que eu escolho os devaneios que tenho durante a madrugada? Acha que consigo selecionar com o que vou sonhar? – ironizou. - Talvez. Se você quiser muito, pode até conseguir. Quem sabe? Ela sorriu e fez um carinho fofo em seus cabelos curtos. Admirou seus olhos verdes e apenas sorriu. - Por favor? – ele insistiu – Você me disse que sonhou comigo outra noite. Porra, quem sabe consegue repetir a façanha. Vou ficar muito feliz. Muito mesmo. - Você é um idiota de verdade – ela disse com carinho. - Mas não basta sonhar. Tem que me contar os detalhes depois – ele afirmou como um babaca apaixonado. - Vou tentar. Prometo que vou tentar. Antes de tomar o meu Lexotan e dormir como um anjo, vou mentalizar muito para ter um sonho cont

JASMIM E UM SOFÁ VERMELHO

Ela era puro jasmim. Puro jasmim. Seu sexo exalava jasmim. Seu quadril tinha este aroma. Doce, lindo, delicado. Ele adorava. Adorava estar perto dos seus quadris e do seu cheiro de jasmim. - Você faz o que da vida mesmo? – ele perguntou como se já não soubesse. - Escrevo e faço outras coisas. Não te interessa, suponho – ela respondeu – Advogados escrotos não se preocupam com isto. - Hmmm, escritora? Elitista, não? – ele zombou – Num país como o nosso você é “escritora”. Legal. O banco deve adorar seu lado social e seu limite de crédito. Ela mostrou a ele o dedo médio enquanto tragava seu Marlboro e dava, depois, um gole da sua vodka. Ele sorriu. Nada disse. - Elitista o cacete – ela finalmente respondeu enquanto a vodka ainda descia ao estômago e aquecia o seu coração. Faço outras coisas. Sociais, inclusive. Nada que lhe diz respeito. Ajudar pessoas. Coisas que você desconhece. Ele sorriu e continuou trolando – Ah, social. Sei. Escritora e gosta e ajuda pessoas. Ajuda

FESTA

- Posso te dizer uma coisa? – ele perguntou, cheio de charme vagabundo, barato, meio bêbado, todo chato. - Sim – ela respondeu meio seca, toda dura, sem querer aproximação com ele. Não era o tipo de homem que ela queria. Nem de longe. Nem de longe, mesmo. - Seus brincos são verdes e combinam com os seus olhos castanhos. Adorei a mistura – ele disse. - Sério? – ela respondeu sem saco, sem a menor paciência – Tem um motivo para isso – completou. - Não acredito – ele disse – Não acredito mesmo. Eu sabia que isso ainda iria acontecer comigo. Coisa de destino. - Como? – ela perguntou sem entender porra nenhuma. - Destino, química, paixão, atração. Estas coisas. Adoro brincos verdes e olhos castanhos. Você se produziu, sem saber, para mim. A vida é assim. Inexplicável. Destino. Noites de sábado. Ela olhou para ele com desdém e respondeu seca e direta – Olha, não quero ser grossa então é melhor deixar para lá. Me esquece. - Como? Você é linda. Adorei a produção. Toda

BIA E LECA

- Não acredito. Você está apaixonada, cacete? – Leca perguntou, percebendo o brilho lindo no olhar de Bia. Ela disfarçou e apenas respondeu, lacônica - Deixa de ser boba – Bia disse, tentando disfarçar o indisfarçável – Apaixonada o caralho – emendou – Sou lá mulher de ficar apaixonadinha por alguém? - Pára – dsse Leca, irritada – Te conheço desde os seis anos. Desde os seis anos. Conheço cada detalhe, cada sorriso seu. Vocè está apaixonada mesmo. Caramba! Vai me fazer o grande favor de dizer por quem? – perguntou. - Deixa de ser trouxa Leca, por favor. Não sei da onde você tira estas bobagens, estas besteiras. Parece que não cresceu. Leca a olhou com indignação e raiva – Porra. Estas bobagens e estas besteiras eu tiro de você mesmo. Tiro de você mesmo. Estamos aqui no Clube Varsóvia, que está bombando de gente chata, gente mala, idiota, presunçosa, aliás, uma porrada de pessoas dançando e você aí, distraída demais, com o olhar vago e brilhante, fumando os seus malditos c

VINIL

- O que é isso? – ela perguntou, enquanto desembrulhava o presente que ele havia lhe dado. - Nunca viu? – ele perguntou incrédulo diante daquela garota linda – Você é o quê? Uma extraterrestre? Parece que mora em cidade pequena – sorriu – Uma ribeirinha – brincou. Ela gargalhou ao perceber do que se tratava. - Então? - ele disse – Gostou? Ela abriu seus lábios vermelhos e deu um sorriso delicioso. Um sorriso lindo. De jasmim. Adorou. Adorou o presente. Típico dele - pensou. - Então...? – ele insistiu. - Adorei seu otário. Claro que adorei. E, ainda por cima, você acertou em cheio a banda. Amo Miles Davis e NÃO tinha este álbum em vinil. Só em um cd velho e pirata. Ele sorriu pretensioso e disse – Claro que acertei. Conheço tudo sobre você. Não percebeu ainda? – provocou de uma forma sacana – tenho uns contatos íntimos com as entidades do além e elas me ajudam a te decifrar. Coisas de zodíaco, carmas, estas coisas. Coisas que você não entende – trolou. - Imbeci

ZODIAC

O calor estava inacreditável naquela pequena cama de solteiro naquele pequeno apartamento no centro da cidade. Inacreditável calor. Inacreditável química. Um casal apenas. Duas pessoas. Mais do que o suficiente para uma viagem ao paraíso. Duas pessoas, porém múltiplas línguas, beijos, toques, saliva, afeto, tesão, desejo, calor, e, claro, gozo. Muito gozo e calor. Calor demais embalado por toques suaves e precisos. Ela tinha uma pele de seda e um adorável cheiro de jasmim. Isso o enlouquecia. Ele? Uma pele brusca e um perceptível e definido cheiro de hortelã. Isso a enlouquecia. Tremia de prazer com a língua dele nos pontos certos. Ele tremia de prazer com os lábios dela nos pontos certos. E o calor? Continuava inacreditável. Dois corpos nus, suados, em transe, apaixonados. Dois em um. Únicos. Insanos. Apaixonados. Enlouquecidos.       ... - Você não me disse uma coisa – ele perguntou com parte do corpo dela completamente nu e extenuado estirado sobre o seu peito. Ela sorriu

QUANDO OS SONHOS PODERIAM SER REAIS

Ela acordou sozinha e de repente, com um grito. Seu próprio grito. Era madrugada e ela acordou absolutamente assustada. Estava suada e sua cama estava completamente encharcada. Molhada de suor frio. O pesadelo havia sido insano. Insano e assustador. Era preciso ter nervos de aço para dormir naquelas noites. Nervos de aço. Ela levantou da cama tremendo e assustada. Foi direto para a cozinha, se é que havia alguma diferença entre o quarto em que ela dormia e a cozinha daquela porra de apartamento em que ela morava, ou melhor, se escondia. Ao lado do filtro de barro, de água, daqueles antigos, ela pegou um copo baixo americano. Não o encheu de água. Abriu o armário e encheu o copo de conhaque. Não conhaque dos bons, claro. Ela não tinha grana para este tipo de luxo. O máximo que ela conseguia comprar era algum destilado vagabundo, sempre dos mais baratos. Um conhaque escroto. Seu fígado já nem se importava mais. Ele estava pouco se fodendo com o líquido em si, o cérebro é que se importav

O AMOR E O BALCÃO DO BAR

- Eu gosto de pessoas que escrevem – ela disse, depois de acender um cigarro. - Eu prefiro as pessoas que lêem – ele respondeu, tentando parecer charmoso, pobre babaca – Simples assim – completou, idiota. - Aqui, no Clube Varsóvia, é bem mais fácil encontrar pessoas que fumam e bebem e se picam do que pessoas que gostam de uma boa leitura – ela emendou. - Ah, isto não é exatamente uma verdade – ele tentou argumentar - Não mesmo, O pessoal que vem aqui gosta de tudo. Todas as coisas, todos os estilos, todas as escolhas, por mais insanas e bizarras que possam ser. Até livros. - Eu prefiro os escritores – ela continuou, com um sorriso sacana no rosto. - Eu gosto mais ainda das leitoras – ele retrucou, no mesmo tom. - Quer dançar? – ela perguntou direta. Ele engasgou e saiu pela tangente – Não. Na verdade prefiro escrever sobre danças e dançarinas. Só isso. - Medroso – ela provocou - Bem, não sabe o que está perdendo. Eu adoro dançar. Então, sorry, lá vou – finali

POR TUTATIS. O CÉU, COM CERTEZA, UM DIA VAI DESABAR SOBRE NOSSAS CABEÇAS

O cenário naquela praia quase deserta era tal qual o de um filme antigo e bem elaborado. Lindo. Lindo demais. Um filme de arte. Um filme de arte em preto e branco. Visconti? Quem sabe. Fellini? Talvez. Qualquer diretor? Muito provável. Arte e paixão. E, no meio de tal cenário apaixonadamente devastador e cinematográfico lá estavam elas, Marcela e Fernanda, totalmente alheias a arte, totalmente alheias as cenas de cinema e filmes antigos. Lá estavam ela apenas deitadas na areia fofa da praia, observando o céu e a aproximação certeira das nuvens cinza, o típico sinal de mais uma impiedosa e demolidora tempestade de verão batendo à nossa porta. - Você devia parar de fumar maconha – sugeriu Marcela, cínica, logo após dar o último trago no baseado em sua mão, sem oferecer á sua amiga um último tapa. - Claro, Marcela, apenas para você fumar todo o resto da erva existente no mundo por mim, certo? – perguntou, com fina ironia, Fernanda. Marcela riu e nada disse. - Não estou certa

JURASSIC PARK

- Mas você é mais nova, né? Mais de dez anos a menos do que eu – ele disse, todo receoso, todo “cheio de dedos” e evitando fitar de forma direta os seus lindos olhos verdes. Medroso do caralho. Ela suspirou e deu uma tragada forte no seu Marlboro (hábito de velho – ele pensou). Ela tomou um gole do seu Jack Daniels (bebida de velho – ele pensou) e apenas olhou para cima, como se pedisse força e paciência aos céus. - Não que eu seja babaca ou preconceituoso ou não acredite no amor ou coisa parecida – ele disse desculpando-se – Até já gostei muito de mulheres mais novas – completou. - Não? Não é babaca? – ela perguntou, sem o menor saco. Ele o encarou com muito carinho e respondeu certo e seguro – Não. Não sou. Apenas talvez eu não seja a pessoa certa para você. Ao menos creio eu. Não quero te deixar triste. - Você é meio idiota para sua idade, sabia? – ela disse – Honre a porra destes fios brancos na sua barba. Assuma o que quer. Ele ficou inseguro. Ela ficou p

BOA NOITE. MUITO BOA NOITE, MEU QUERIDO...

Ela olhou para ele com ternura e muito carinho. Suspirou profunda e longamente. Ele era o seu Ringo Starr. O seu preferido, o seu preferido de todo o sempre e de todos os tempos. O seu ídolo e hitmaker do coração. No entanto, não acreditava naquele bobo dormindo, desmaiado no seu sofá. Porra, mesmo com a justificativa do litro de Campari barato que tomaram sozinhos, ela continuava sem acreditar em tudo o que ouviu dele ao longo das últimas horas. Continuou sem acreditar no que conversaram e no que foi dito por ele naquela noite e madrugada. Os recados dados, as indiretas, as confissões atrasadas, os medos, os receios, as besteiras, a preferência dele pelo Campari. Ela ficou triste, porém resolvida. Sexy Sadie por demais. Ficou sem acreditar na imaturidade dele, nos medos e nas bobagens que ele disse e, infelizmente, nas merdas que ele assumiu fazer depois. E ele fará. Ficou melancólica. Respirou fundou e foi para o quarto. Pegou um lençol verde barato e leve que estava no seu quarto