Pular para o conteúdo principal

TANGERINA.


O Clube Varsóvia estava quase vazio, mas a música ainda rolava. Não alta, já baixa, já em fim de festa, mas ainda a música rolava.
Era domingo, seis e meia da manhã.
A noite já estava quase no fim, para alegria de quem lá trabalhava e tristeza de quem lá se escondia.
- O que vão querer para a saideira? – perguntou, de forma educada, o barman do Clube Varsóvia, visivelmente cansado e muito irritado.
- Suco de tangerina – disse Carol, breve e ligeira – Bem gelado, por favor.
- Tangerina? – perguntou o barman, surpreso.
- Tangerina? – repetiu Estela.
Carol olhou surpresa para Estela e, depois, para o barman e apenas concluiu – Sim. Tangerina. Suco de tangerina. Qual o problema? Não tem gelo? Ok. Sem problemas. Pode ser quente mesmo.
O barman e Estela se entreolharam com surpresa e admiração, porém nada disseram, apenas sorriram brevemente.
- Então, o que vai ser? – perguntou Carol – Vai rolar este suco ou não? – insistiu meio puta, muito zangada.
- Carol – disse Estela – Veja bem. Acho que nesta espelunca do Clube Varsóvia não deve existir no cardápio de bebidas algo tão saudável como um “suco de tangerina”, por exemplo. Perceba, neste exato momento estamos vivendo às seis e meia da manhã de um domingo de verão. Você bebeu, ao longo da madrugada toda, quase uma garrafa inteira de vodka. Sozinha. Vai tomar, na saideira, um suco de tangerina gelado? – perguntou surpresa.
Carol olhou para Estela com surpresa e desdém – Vou. Vou tomar o que eu quiser. Algum problema?
O barman assentiu com a cabeça e apenas falou, calmo demais para o fim do expediente – Pode deixar. Vou preparar a sua bebida, senhorita. E pode relaxar, tenho bastante gelo. Seu suco vai estar bem gelado.
Assim que o barman virou as costas, Estela olhou para Carol e emendou – Você pirou?
- Como assim? – ela respondeu – Não posso tomar uma porra de um suco de tangerina? Preciso tomar sempre vodka? Você precisa de mim sempre alterada? Sempre alcoolizada? Sempre bêbada? Nâo pode comigo sóbria? Não aguenta? Tem medo do quê?
Ela abaixou os olhos e disse, triste, acanhada – Esquece.
- Fale filha da puta. Qual o problema?  
- Esquece – Estela insistiu.
- Fale porra – gritou Carol.
- Eu te amo – emendou Estela - Só isso. Apenas te amo e tenho medo de você perceber, se estiver sóbria.
Carol abaixou os olhos, nada disse. Apenas acariciou os seus cabelos.
Estela abaixou os olhos e gritou pelo barman.
Assim que ele chegou, ela pediu mais um suco de tangerina. Com muito gelo e muita satisfação.
São em noites assim que os contos viram realidade e os sapos viram príncipes.
São em noites assim que os contos deixam o papel e viram estórias de amor, de verdade...


Comentários

Anônimo disse…
Guziej!!! Obrigada pela visita ao meu "Emdorfina"!!!! =D
Sou fã do seu blog, intenso que é...destes seus escritos que deixam o coração na ponta de uma faca.!
Valeu mesmo, que bom que gostastes de lá, assim como eu gosto de cá. Abraços e beijos!

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
O GUARDA SOL COLORIDO - Ei, olhe por onde pisa – ela gritou, a tempo de evitar que aquele garoto com cara de perdido esmagasse os seus novos escuros escuros. Ele a encarou meio sem jeito e sem saber o que estava acontecendo e não respondeu nada. - Não olha por onde anda não? – ela prosseguiu, agora mais calma, mas ainda querendo briga. - Desculpa, desculpa. Mas também, porra, convenhamos que não dá para ficar largando óculos de qualquer jeito numa praia lotada né? Qualquer idiota como eu, por exemplo, pode pisar neles – retrucou, sorrindo. Ela o olhou com atenção e reparou como ele era lindo. Muito bonito mesmo. Claro que não aquela beleza normal, de capa de revista, afinal isso só acontece nas merdas das novelas e tal, ele era apenas dono de uma beleza que a agradava e muito. Ele era dono de uma beleza absolutamente normal, absolutamente simples, absolutamente cotidiana. - Então, tô desculpado? – ele perguntou, querendo rir da situação. - Relaxa, cara. Eu é que ando estres
APENAS UM MOMENTO TOLO (E APAIXONADO) - Sabe o que quero? – ele perguntou, enquanto olhava bem para ela. - Não – ela respondeu, irônica. - Seus beijos e tudo mais – ele disparou, direto. Ela sorriu o mais doce dos sorrisos e abriu seus braços, devagar, como o encorajando a beijá-la por horas e horas e horas. E ele assim o fez. Aproximou-se com desejo e vontade e paixão e beijou aquela garota com toda a saliva e amor do mundo. E enquanto a beijava, suas mãos percorreram cada milímetro dos seus cabelos, do seu rosto, do seu corpo. E ele a beijou com vida, como se aquele momento fosse um dos mais importantes do mundo para ele. E não era? Claro que sim. Claro que era. A grande confirmação do amor para ele. A grande constatação do amor para ela. E a vida é tão melhor quando se ama assim... como dois adolescentes... Não concordam???