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SENHORITA ALICE

O telefone tocava insistente e repetidamente e ela, nua e molhada, recém saída do banho, apenas praguejou antes de atender – Porra. Que saco! Não se tem paz nem em um hotel, caralho – afirmou antes de atender – Que vida do inferno – completou.
- Alô? – disse, ao pegar o telefone, sem demonstrar a menor paciência com a pessoa do outro lado da linha.
- Senhorita Alice? – perguntou gentil e doce, a jovem recepcionista do hotel.
- Sim – respondeu – Sou eu. Algum problema? – perguntou, irritada.
- Senhorita Alice, temos aqui uma entrega para a senhorita. Posso mandar nosso mensageiro subir? – emendou a recepcionista, toda prestativa, toda solícita, porém toda receosa.
Ela se surpreendeu e perguntou rápida – Entrega? Como assim? Do que se trata?
- Senhorita Alice, eu vou mandar o mensageiro subir e ele entregará para a senhorita, ok? Acho mais adequado desta forma. Não é muito usual este tipo de situação no nosso hotel. Mas não é nada com o que se preocupar. Pode ser? – perguntou.
- Ok. Pode subir – ela disse – Vou atender sem problema.
Ela desligou e ficou surpresa. Não tinha a menor idéia do que se tratava. Ninguém sabia da viagem dela. Ninguém sabia onde ela estava. Tirou uns dias para ser feliz e viver com ela mesma. Não entendeu porra nenhuma.
Instantes depois a campainha tocou e ela atendeu ao mensageiro.
- Senhorita Alice? – perguntou o moço, todo medroso.
- Sim. Sou eu.
- Estas flores são para a senhorita – disse o mensageiro mostrando a ela um buquê gordo, lindo, gigante e maravilhoso de rosas vermelhas, lindas e frescas como tudo, e completou – Tem este envelope também – disse, entregando a ela um pequeno envelope amarelo – Boa noite Senhorita Alice – disse, com um aceno de cabeça.
- Obrigado – ela respondeu, bastante sem graça.
Admirou por alguns instantes aquele magnífico buquê de flores lindas. Aquele buquê maravilhoso de rosas vermelhas. Cheias de paixão.
Ficou muito feliz.
Após alguns instantes de torpor, percebeu o envelope amarelo em suas mãos. Abriu o mesmo cuidadosamente. Abriu o mesmo com muito carinho.
Reconheceu imediatamente a letra no mesmo. Começou a chorar. Copiosamente.
Leu palavra por palavra do que estava escrito por vezes e vezes e vezes.
Caiu no chão de tanta alegria e felicidade.
Não tinha idéia de como ele havia a descoberto. Não tinha idéia de como ele teve coragem de, finalmente, se declarar. Não tinha idéia de nada, de porra nenhuma, mas naquela noite, ao menos naquela noite, Alice seria a mulher mais feliz do mundo. A mulher mais feliz do mundo.

Comentários

Anônimo disse…
Ai ai...

sem mais...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
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