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DANÇANDO SOZINHA


Ela gargalhava como uma doida. Uma perfeita insana dançando na bagunça da quitinete em que morava, no centro velho da cidade. Ela gargalhava e gargalhava e gargalhava. E dançava e dançava e dançava. Uma verdadeira menina entorpecida de som e fúria, paixão e vontade. No som rolava uma canção velha e surrada do The Clash. Velha e surrada, porém imprescindível em momentos como este. De alegria plena. Imprescindível. E ela estava feliz demais. Muito feliz. Queria poder beijar o céu. Sentir o gosto das estrelas. Sentir o bafo das nebulosas. Sentir a alegria em brincar com nuvens. Podia fazer isso, de verdade, graças às doses de Campari que havia tomado e ao estado de felicidade absurdo em que se encontrava. Feliz como há anos não sabia ser. Feliz, de fato, pela primeira vez em toda a sua vida. Feliz. E ela dançava na sala, sozinha e feliz. Sozinha e feliz. Agitava seu echarpe e dançava como se não houvesse amanhã. Como se o futuro não mais fosse existir. Como se devesse viver aquele momento como se fosse único na sua existência. Não dançava como uma bailarina, pois era desajeitada demais. Não dançava como uma bailarina, pois estava descontraída demais. E ela dançou por horas a fio. Bebeu e dançou e foi dormir feliz. Sozinha e feliz, porém com coração transbordando de alegria. Pela primeira vez em muitos e muitos anos...pela primeira vez...


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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,