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KNOCK DOWN

Eu estava lá.

De joelhos.

E eu sentia o sangue escorrer pela garganta e descer rumo ao estômago. Direto. Sem volta. Sem pudor.

Eu estava lá.

De joelhos no ringue imaginário.

Eu estava lá porque, convenhamos, eu merecia estar.

Porrada direta, certeira no queixo.

Porrada direta, certeira aonde quer que fosse.

E tudo por causa de palavras mal faladas, palavras imbecis que me fizeram perceber como sou velho, idiota, desinteressante e sem assunto.

Apenas um ultrapassado. Adolescente tardio e ridículo. Infame. Otário.

Por conta disso, eu estava lá, prostrado no ringue, à beira do inevitável nocaute.

E não havia ninguém, definitivamente, que pudesse me ajudar.

Não aquela hora de um sábado á noite.

Não mesmo.

Continuei inerte e de joelhos, sabendo-me culpado por falar demais. Culpado por errar demais. Culpado por ter medo. Culpado por ser tolo. Culpado por sentir culpa.

Apenas um velho e idiota culpado.

E, com certeza, eu sabia naquela noite, que o que ela menos queria era um pedido de desculpas.

E este pedido seria o knock out total.

Por isso fiquei em silêncio, apenas lamentando o gosto amargo de sangue invadindo meu estômago.

Imbecil...

Comentários

Cruel disse…
Muito bom conto!
Engraçado que ontem vi o Popó perder uma luta e fiquei com vontade de escrever algo.
Não sobre ele, mas sobre luvas, ringues, pelavras...sei lá!
E hoje dei de cara com seu texto.
Gostei do seu Blog.
Abraços
Anônimo disse…
Voltou e nem avisou?
Fico feliz que tenha voltado

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NUCA

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