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Mostrando postagens de janeiro, 2005
HOUDINI FAZIA IOGA Suas unhas longas e bordadas com esmalte preto pareciam querer rasgar o velho colchão de molas do Hotel Varsóvia, tão forte e descontrolada era a pressão que ela exercia sobre o lençol com os seus dedos longos, finos e bonitos, sempre cheirando a cigarro mentolado. Seus cabelos de cor girassol estavam invertidos, em negativo, bagunçados, amassados e completamente ensopados de tanto suor, de tanto tesão, de tanta saliva. Os lábios daquele garoto eram infernais. Feitos para o pecado, feitos para o paraíso. Simples assim. Grossos, carnudos, pálidos, os lábios dele percorriam sem pressa cada centímetro do seu corpo, da sua esquina, da sua pele, das suas dobras, do seu sabor, do seu gosto. Os lábios daquele garoto exploravam e exploravam e exploravam cada detalhe das suas entranhas, da sua carne, dos seus pontos. Cada detalhe do seu corpo. Corpo aberto, explorado, indefeso e molhado. Ele sorvia cada gota de tesão escapava por entre as suas pernas, cada gota de amor qu
DAVID BOWIE EM OPOSTOS ÓPERA ROCK - Alô? – ele perguntou, impaciente. Do outro lado, apenas silêncio. - Alô, porra. Quem é? Isa? É você? – ele agora gritou, com a paciência toda para lá de Saturno. Do outro lado, apenas nada. - Preciso repetir? Preciso dizer todas aquelas coisas que nos machucam de novo? Preciso mesmo? Preciso, puta que o pariu? Por quê raios você insiste em me atormentar? Por quê? Por quê? Já não fizemos o suficiente um ao outro? Do outro lado, apenas dor. Ele calou a maldita boca e ficou em silêncio, apenas segurando o telefone e ouvindo a respiração dela, a respiração tão angustiada e fodidamente familiar. Do outro lado, um murmúrio – Você ia acreditar se eu dissesse que quero tentar? Somente tentar? Como resposta um grito, um murro imbecil na parede e um quadro quebrado – Voltar? Voltar? VOLTAR? – ele urrou – Como assim, simplesmente voltar? Do outro lado, apenas angústia e arrependimento. - Você sabe tudo o que aconteceu entre
CARTÕES POSTAIS EM BRANCO - Você nunca sabe? – ela perguntou, aflita. Ele a olhou como se o melhor fosse não dar resposta. Nenhuma resposta. Ficou em silêncio. - Não? Nunca sabe? Responde caralho. Nunca sabe porra nenhuma? É isto? Ou é apenas um garoto amedrontado e cheio de frescuras, cheio de medos, cheio de dedos, que não gosta de se arriscar? – ela disse firme, fazendo uma força tremenda para não gritar e chamar toda a atenção do Clube Varsóvia para eles. - Eu não sei o que devo dizer – ele arriscou, sabendo que estava jogando fora os seus últimos argumentos e as suas últimas chances. Ela sorriu com ironia, com desprezo, com raiva – Não posso acreditar, sabe? Não mesmo. Não sabe o que dizer? Neste momento? Ele assentiu com a cabeça, enquanto virava o resto da cerveja quente que sobrou em seu copo. - Que tal dizer a verdade? – ela sugeriu – Que tal dizer a verdade ao menos uma vez. Ele a encarou, agora furioso, praticamente fora de controle - O que muda? – perguntou – O
NADA DEMAIS PARA A CIDADE DEBAIXO DELE E de todas as coisas boas dos sonhos e de todos os seus desejos escondidos, o que ele mais desejava naquela noite era sentir, ainda mais uma vez, o perfume suave dela. O suave e gentil perfume grafite que exalava do seu pescoço fino e magro, porém delicioso, que ele adorava morder e mordiscar. E de todas as coisas boas dos sonhos e de todos os seus desejos escondidos, o que ele mais desejava naquela noite era sentir, ainda mais uma vez, o perfume suave do seu corpo todo. Corpo lindo, corpo lindo, que ele adorava beijar, arranhar, gozar, gemer. O corpo com o qual ele adorava trepar e fazer amor. O corpo da sua maior e mais devastadora e mais verdadeira paixão. Paixão para poucos. E naquele apartamento velho, sentado sobre o chão de madeira podre cheirando a memórias inexpressivas de fantasmas já enterrados, tudo o que ele podia fazer era observar, através da sua janela, a paixão dos outros, a paixão da cidade. As luzes, os carros, os anseio
O SILÊNCIO É UMA PORTA TRANCADA Você vai ficar aí, parada? - ele pensou, ansioso. Ela olhava fixo para o céu, como uma criança, aonde explosões barulhentas e constantes geravam luzes coloridas, deliciosas, psicodélicas, alegres, inconstantes. E você vai ficar aí, apenas parada? - ele pensou novamente, olhando para ela e não para o céu colorido de reveillon. Ela sorria sozinha, feliz e feliz pela bebida e pela excitação e ele apenas a encarava. Até que finalmente ela parou e o olhou com muito carinho e deu um dos abraços mais quentes que ele jamais havia experimentado - Feliz ano novo, meu querido e melhor amigo. Ele chorou. Não pela declaração, mas por perceber que jamais falaria as palavras certas. Não as que ela queria escutar, mas as que ele sonhava em dizer. Somente sonhava em dizer.