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Mostrando postagens de 2005
O QUE OS OLHOS DEMONSTRAM Tudo está no olhar. Tudo. Todos os sentimentos se traduzem e se refletem através do olhar. O amor, a dor, as lágrimas, o medo, o desespero, a angústia, a paixão, alegria, felicidade, o poder, a insegurança, e, principalmente o vazio. O vazio. O maldito vazio pós-paixão. O maldito vazio pós-traição. O maldito vazio da escuridão. E ele havia fodido com tudo, novamente em sua vida. E os olhos dela eram, de forma inédita, apenas vazio. Como eu disse, tudo está no olhar. Tudo. O ódio, o desprezo, o nojo. E ele sabia que não precisaria receber mais do que um simples olhar dela para perceber isso. Ele simplesmente sabia, depois de todo aquele tempo juntos. Talvez por isso as palavras fugiram quando o mundo explodiu. Talvez por isso ele sentiu a navalha do desespero na garganta quando a viu em pé na sala, segurando aquela maldita carta de amor não endereçada a ela e olhando a chuva através da janela. As palavras fugiram. O olhar verde e lindo dela era uma sombra do pa
FELIZ DE QUEM VÊ ALÉM DOS NEGATIVOS - Gostei. Gostei mesmo. Você parece pura paz. Serena e bonita - disse ele, enquanto olhava, carinhoso, para a foto colorida dela exposta à sua frente. - Sério mesmo? - ela perguntou, inquieta - Hmmmm, não sei se quis transmitir exatamente isto na foto. Não sei mesmo. Não me sinto assim. Não sinto toda essa paz e serenidade que você fala. Porra, pensando bem, longe disso. Muito longe disso. Minha alma tá total em outra. Ele sorriu e disse - Ah, pára. Você não vê porque não quer ver - emendou - Você está bem melhor. Longe dele, perto de você. Feliz - ele disse. Ela continuou observando o retrato e ficou em dúvida, querendo, de verdade, acreditar que o tempo passou e agora estava feliz. Livre. Em outra. - Basta perceber uma coisa - ele disse, procurando uma forma de convencê-la. - O quê? - ela perguntou, curiosa. - Olhe bem. Veja o seu sorriso - ele respondeu, enquanto os seus dedos amarelos apontavam os contornos do corpo dela, suavemente registrado n
JUST LIKE HONEY Garrafas geladas de tinto chileno não aliviavam muito aquela altura da madrugada. Hmmmm ajudavam, claro, mas não aliviavam. Não da forma como ela queria. Não da forma como ela, definitivamente, gostaria. Apenas o desespero ecoava na noite escura. E como as garrafas geladas de tinto chileno, nem os cigarros, as pílulas coloridas, as pastilhas acidas, ou mesmo as canções de Jesus and Mary Chain, podiam aliviar alguma coisa. Não àquela altura da madrugada veloz. Não àquela altura da madrugada voraz. just like honey / just like honey Enfim, nada acalmava os ânimos, as vontades, o suor. Nem mel em alto teor etílico. Apenas sonhos em estados criogênicos. Sonhos congelados esperando viver. The living dead strikes again. E enquanto isso, nos seus fones de ouvido just like honey / just like honey Porém, nada aliviava o seu corpo da forma como poderia ser. Da forma como, caralho, deveria ser! E o pior é que as madrugadas quentes são as que mais sufocam, as que mais ardem, as qu
QUANDO A SALA DE ESTAR ESTÁ LOTADA DE AMIGOS E SOLIDÃO E tudo aquilo parecia surreal. Uma espécie de filme psicodélico dos anos sessenta, recheado de álcool, drogas, cores e canções antigas. E ela se divertia com os compactos de vinil que ele possuía. Amava aqueles pequenos discos velhos, tão cheios de charme e apelo. Adorava cheirar escutando aquelas canções pop, aquelas canções bubble gum, aquelas canções inocentes sobre amores impossíveis e sonhos juvenis. Ela adorava aquilo tudo. E lá estavam eles novamente na pequena e bacana sala de estar. Ana, Clarice e Heitor, os três amigos inseparáveis, juntos e conversando sobre a amizade que os envolvia, sobre os casos e os descasos, enfim, conversando sobre a vida urgente e apaixonada e desenfreada que levavam. E tudo aquilo, como sempre para Clarice, parecia surreal. Um cenário de tranquilidade e amizade, uma madrugada entre amigos, envolta em elevadíssimo teor alcoólico. E eles conversavam e conversavam e conversavam. - E o que você fez,
COSMONAUTAS Ela costumava não acreditar na própria pouca sorte no amor. Ou, em constatações menos gentis, no seu excesso de azar em assuntos desta natureza. Ou, talvez, nem uma coisa nem outra, ela costumava (e preferia isso) não acreditar na sua usual falta de cuidado com pequenos detalhes amorosos. Mas porra, convenhamos, quebrar o próprio coração jamais pode ser considerado como um "pequeno detalhe". De qualquer forma, ela nunca acreditou muito nela própria. Esta sim, a grande verdade. Também, com tantas mancadas, burrices, com tanto medo, pânico, enfim, com tantos excessos e erros, inevitável se meter em encrencas. Confusões. Decepções. Bridget Jones piorada. Uma versão real. Desconexa. Desconcertada. Puro desleixo ao tratar do próprio coração. Mesmo diante de situações fáceis, risco baixo, ela sempre preferiu ficar quieta e ir embora. Chorar o que não fez. Chorar o que não teve peito de fazer. Usual desleixo ao tratar do próprio coração. Grande droga. Grande erro. Entret
EATING GLASS E amigos não podem experimentar??? A pergunta ecoou na cabeça dela como um bate-estaca seco, ritmado, perturbador, soando apenas cruel naquele cenário incestuoso entre namorados que nunca se beijaram, entre amigos que nunca questionaram, entre irmãos de escolha própria. Irmãos de afinidade. E não somos irmãos!!! Somos apenas amigos. E amigos não podem apenas gozar??? A pergunta voltou com insegurança. Mas durou pouco. Sorte dela. A pergunta durou apenas o tempo de ele começar a desabotoar a camisa dela com fúria, com vontade, com desejo, com lúxuria. Suando e tremendo e tentando acertar o toque. Ela ficou ensopada. Ele ficou duro. Eles se beijaram. E amigos não podem experimentar??? A pergunta já era puro passado e os medos de ambos também. Ela apenas fechou os olhos e os dedos dele, ágeis, alcançaram a entrada da sua calça e invadiram o seu corpo quente, aberto, indefeso, desarmado. Ansioso. Um a um, os dedos macios e suaves e delicadamente perfumado com aroma de menta e
O ENÉSIMO COMEÇO - Não, eu não sei, definitivamente eu não sei - ela disse relaxada, inteira feliz. - Tem certeza que não? - ele respondeu, provocante. - Eu realmente não sei porque você diz isso. Porque diz que gosta de mim. Porque me dá tanta alegria, porque quer tanto e sempre me fazer feliz. Eu não sei. E eu não entendo as suas razões, sabe? Juro que eu não entendo. - Nem eu as suas. Não entendo tanto pessimismo e tanta vontade por dias cinzas. Você pode me fazer feliz. É só isso o que eu quero. É muito? - ele sorriu. Ela o encarou com surpresa - Preciso mesmo explicar? Preciso mesmo sempre explicar porque tenho tanto medo? - Você é quem me diz. - Não vou dizer. Desta vez não. Não quero. Não quero. Vou apenas viver. - Sabe que eu prefiro assim? Nada de medos, nada de dramas. Apenas nós e o que sentimos. Prefiro apenas o teu silêncio e este brilho lindo nos teus olhos. - Te dá prazer né? Me ter desta forma. - Claro que dá. Você nem imagina o quanto. Me dá um beijo. Agora. E assim qu
O ENÉSIMO FINAL - Não, eu não sei, definitivamente eu não sei - ela disse nervosa, quase gritando. - Óbvio que não - ele respondeu, irritado. - Eu realmente não sei porque você faz isso. Porque me causa tanta dor, porque quer tanto e sempre me machucar. Eu não sei. E eu não entendo as suas razões, sabe? Juro que eu não entendo. - Nem eu as suas. Nem eu as suas. Você podia me deixar em paz. É só isso oque eu quero. - Precisamos mesmo brigar? Precisamos mesmo sempre brigar desta forma idiota, quase insana? - Você é quem me diz. - Não vou dizer mais porra nenhuma. Não quero. Não quero. - E eu prefiro assim. Prefiro apenas teu silêncio. Tua voz me irrita. E estas lágrimas não me incomodam. - Te dão prazer né, seu filho da puta. - Vou embora. Tchau. E assim que ele bateu a porta com uma força incrível, com uma vontade certa de destruir aquele seu passado, ela gritou e chorou com desespero. Com dor. Com medo. Com frustração. Assim que ele bateu aquela idiota porta verde, ela percebeu que tod
À LUZ AZUL DO MONITOR Chovia horrores naquela madrugada. No apartamento, repleto de cinzeiros sujos e cds espalhados, apenas ela e a escuridão e a luz azul fantasmagórica que brotava do monitor do seu computador. Caralho, isto é apenas um computador, não é real - ela resmungou alto, enquanto lia, atenta e excitada, as palavras que surgiam á sua frente. Pura insanidade. - Então, você não me disse o que está vestindo - ele escreveu, esperto, na sua vez de responder àquele chat. Ela pensou e respondeu, trêmula - Apenas uma camiseta de banda e uma calcinha velha, de dormir. Saca? Aquelas mais gostosas para ficar em casa em noites de chuva . Ela esperou ansiosa a próxima mensagem. - Camiseta de banda? Qual banda? - finalmente ele perguntou. Ela olhou para a camiseta e não acreditou que iria responder a verdade - Motörhead. Era do meu irmão . - Mas aposto que fica muito melhor em você. Aposto mesmo. Ela sorriu com o elogio barato e delicioso. Ele prosseguiu - E a outra peça? Ela sentiu o
HER LIFE WAS FULL OF DRAMA (USED TO BE) O dia estava cinza. Cinza como somente os invernos podem ser. Cinza como somente os seus olhos podem ser. Cinza como somente a neve suja pode ser. Apenas cinza. Mas, na verdade, naquela tarde ela pouco se importava com todo aquele cinza. Pouco se importava com todo aquele frio. Pouco se importava com todo aquele cenário de ausência de flores e de primavera. Ela pouco se importava com o mundo. Tudo o que ela queria era apenas um copo grande de capuccino quente, cheio de desejo, cheio de esperança, cheio de conforto e um par de cigarros de menta. Nada mais poderia fazê-la feliz. Naquele café pequeno e fofo, localizado em pleno Parque Central, ela mal acreditava que tinha conseguido ir embora e deixado todos os seus problemas a um oceano de distãncia. Um mundo de distância. Uma vida de distância. Ela mal acrediata que, finalmente, estava feliz. Naquele café apertado, pequeno e fofo, ela podia, finalmente, rir sozinha de todas as besteiras que havia
por um fio este site quase acabou por um fio este blog quase explodiu por um fio quase desisti mas ainda não ainda não é a hora... fico feliz com isso... muito feliz...
O EXATO INSTANTE EM QUE VOCÊ SE TORNA APENAS PASSADO PASSADO uma lata vazia um lençol manchado um letreiro de um filme um enterro uma caixa aberta um papel rasgado ela apenas ela... ... - E então? Ainda aqui? A pergunta dele soou dolorida, quase sádica. Uma pergunta perdida em um mar de caos, desordem, dor e desconsolo. Uma pergunta difícil e direcionada a alguém incapaz de saber. Incapaz de responder. E perguntas assim não soam bem. Nunca. Definitivamente não soam como deveriam soar. São perguntas como lascas de pregos enferrujados, repletas de más intenções e vontade de machucar. E, porra, nada tem o direito de ser tão dolorido assim. Ao menos não deveria ter. E ela continuou deitada e mal levantou a cabeça. Seus cabelos longos e lindos, escuros como o mal, pretos como a noite e descuidados como ela, tentavam, em vão, esconder as lágrimas nas quais os seus maravilhosos olhos azuis se afogavam naquele momento, pois, claro, a pior e mais nojenta coisa a fazer naquele exato instante era
HORA DE DERRETER Ela parecia flutuar, muito embora, na real, estivesse totalmente parada e estática naquela cama pequena de solteira. Inerte. Deitada. Imóvel, mas, de alguma forma, livre. Seu corpo parecia querer voar. Simplesmente querer voar para longe dali. Voar para sair daquele quarto pequeno e cheio de tantas lembranças, memórias, medos, receios, drogas, livros, fotos e discos velhos. Ela queria muito sair daquele maldito quarto e ir atrás de algo que realmente valesse a pena. Como a sua própria vida, por exemplo. Não memórias e arrependimentos. A sua vida, perdida e escondida em alguma esquina escura. Deus, como ela queria poder flutuar. Definitivamente ela queria poder voar alto, muito alto. Higher than the Sun. Mais alto do que sol, o céu, o espaço, o infinito. Como num filme de ficção, como num filme de ação. Um filme de arte, um filme pornô, um filme qualquer. Um filme de terror. Um filme B. Um filme fantástico. Um filme real. Mas, enquanto isso, enquanto não era retratada p
QUANDO A CHANCE CAI DO CÉU (OU SEJA, NUNCA SE SABE) Ele entrou no quarto de forma rápida e desastrada, quase mortal, quase suicida, quase nada. Um trapalhão em um filme noir, um filme escuro, filme antigo, filme preto e branco, filme brutal, um filme odioso, o filme da sua vida. Mas, tanto faz, ele detestava cinema. De qualquer forma, ele entrou cambaleando no seu quarto, como se os pés fossem disformes e o precipício, logo ali. Estava completamente molhado pela tempestade que caía lá fora. Molhado da cabeça aos pés. E bêbado. Ele estava bêbado. Totalmente chapado. Bêbado como um idiota. Um imbecil que, como de hábito, havia feito tudo errado. Sempre e sempre e sempre tudo errado. Caiu assim que a porta abriu. Não conseguiu chegar até a cama desarrumada e desabou, sentindo o gosto do assoalho sujo de poeira e de bitucas de cigarros mal fumados. Não se moveu. Aquele gosto era bem melhor do que aquele que pairava em seus lábios desde o começo da madrugada. Comformou-se em estar no chão.
NAMORADOS QUE NUNCA SE BEIJARAM Muito tempo se passou. Muito tempo mesmo. Tempo suficiente para deixá-los tristes. Nostálgicos. Com saudades um do outro. Muito tempo se passou. Tempo suficiente para qualquer mortal. Tempo insuportável para qualquer apaixonado. Mas, no fim, nem sempre melhores amigos são melhores namorados... Ela mal acreditou quando o reencontrou por acaso, naquele café charmoso no centro da cidade, com aroma de hortelã e capuccino. - Você? - perguntou, surpresa, feliz como uma criança, desastrada como sempre ela. Ele apenas sorriu, revelando também toda a sua felicidade, toda a sua vontade, toda a sua alegria - Oi Nanda. Quem apostaria numa coisa destas, não é mesmo? Depois de todos esses anos, de toda essa vida, de todo esse tempo, um reencontro casual e pouco provável... - ...porém, extremamente feliz - ela emendou rápida, arrependendo-se imediatamente da resposta apressada. Ele foi super gentil e sorriu - Claro. E extremamente feliz - ele concordou sincero, deixand
TOTALMENTE DESPIDO E CANSADO Mais ou menos como um castelo de cartas. Frágil, extremamente frágil e sem sentido. E, óbvio, para piorar, ele não estava construído sobre qualquer lugar sólido. Estava construído sobre areia fofa, mole e quente como o sol. Frágil e perigoso, Frágil e perigoso. A qualquer momento, como num passe de mágica e destino, tudo viria abaixo com uma violência assustadora e, claro, ainda mais uma vez ele iria se machucar para valer. E nenhum maldito podia evitar. Ele detestava aquele cenário de devassidão e ignorância e dor e medo. Detestava todo aquele cenário rasteiro, vizinho da devastação e solidão total. Mas, na verdade, ele simplesmente não podia fugir dele. Ao menos por enquanto. Porque, por mais que o odiasse agressiva e violentamente, ele estava preso a este maldito cenário de um modo inexplicável, odioso, raivoso e cheio de amor. E nenhum maldito podia ajudar.
NÃO SERIA LEGAL? FAZER PARTE DE UM FILME DE AMOR... - Beatles? - ela perguntou. - Não - ele respondeu, rindo. - Não sei então. - Vai desistir fácil assim? - ele provocou. - Claro. Você acha que você vale tanto a pena? - ela disparou com um sorriso, retribuindo a provocação e brincando como uma menina. - Você é que tem que me responder isso - ele disse. - É? - ela perguntou. - Claro. - Não sei então. - Não sabe o quê? - Se você vale tanto a pena assim. - Achei que eu pudesse valer. - Nem sei por que estamos discutindo isso - ela disse. - Nem eu - ele respondeu, desenhando o nada com os pés descalços na areia gelada. - Deixa eu te dizer uma coisa - ela falou. - À vontade. - Existe algo mais sensacional do que este pôr do sol que você está testemunhando aqui nesta praia? Este pôr do sol de um dia de outono. Nem bem frio, nem bem quente, porém, extremamente doce. - Claro que existe - ele retrucou. - Ah, existe? Posso saber o quê? - Se este momento fizesse parte de um filme, de que gênero s
A BALA AMARELA NO SACO DE JUJUBA - O mar está tão frio hoje - ela disparou, com os lábios ardendo por vodka. - Que mar? - ele perguntou, supreso. - O mar, oras. Qual mar? - ela respondeu irônica - O único que existe. O mar. Ele está muito frio hoje. - Ótimo. Ele pode estar frio, gelado, congelante, mas ainda bem que está longe de nós. Estamos no Clube Varsóvia. Percebe? - Você não tem o menor senso de realidade, sabia? Infelizmente. Este é o seu maior problema. Podemos estar no mar, no Varsóvia, na cidade, no campo, em algum inferninho cheio de putas e vagabundas e traficantes, ou mesmo nos alpes suíços. It´s up to us. Depende da sua imaginação. Da nossa imaginação. - E do grau etìlico e da quantidade de drogas que foi consumida hoje também, não? De qualquer forma, por que o mar está frio? - Você já viu o céu? Cara, é sábado a tarde e olha lá. Apenas nuvens cinzas, carregadas de inverno. Óbvio que o mar está frio. As lágrimas dos deuses não são quentes. Com toda a certeza. - Ah, as lág
ROCKET MAN ou LAZY MOON - Hoje é sexta, né? - Bem, tecnicamente é sábado. Já são quase três da manhã. - Ah, é um saco isso. Para mim, ainda é noite de sexta. - Noite de sexta foi ontem. De quinta para sexta. Hoje, de forma correta, já é sábado. - Odeio estas convenções. - Você pode odiar o quanto quiser Lu, mas hoje É sábado. - Como você é irritante, não? - Nisso você tem razão. Até eu concordo. - Foda-se isso. Não está linda? - Linda? O quê? - A noite. A noite de hoje, seja sábado ou seja sexta ou seja o que for, está absolutamente linda. Olha este céu, porra. Que céu! Tão escuro e tão cheio de estrelas. Maravilhoso. - Hmmm. É. Você tem razão. Está uma noite bonita hoje. Clara. Mas eu confesso que não tenho muito saco para reparar nisto não. Prefiro ficar aqui, sentado nesta sacada, apenas curtindo. - E eu não sei? Claro. Você só se preocupa com estas suas drogas, estas suas pílulas, estes baseados vagabundos que você mal sabe enrolar. Pena, você perder o melhor da noite. - E daí? Qua
já que não posso mais usar o MSN aqui no office, quem quiser trocar uma idéia com a anta aqui, pode tentar o soulseek (procure soulseek no google). É programa de troca de músicas que permite conversa entre os usuários. Meu nome de user é guziej. Podem me adicionar. Thanks...
COMO UMA CANÇÃO DE LAURYN HILL Então, ela se pergunta, o que aconteceu com todos aqueles momentos? Alguém pode explicar? Alguém pode explicar para essa menina doce, gentil e bem humorada, de que serviu todo aquele amor, aquele desespero, aquela vontade insana e adolescente de querer ficar junto, de querer estar junto, de querer comer junto, viver junto, enfim, morrer junto? Aquele desejo doentio e saudável de viver duas únicas vidas em uma só? Alguém pode explicar essa porra? Porquê, até onde eu sei, não existe um manual de instruções de como proceder em caso de falência múltipla de sentimentos. Não, meu caros amigos, definitivamente não há um manual de instruções que possa ajudar-nos a entender todas as razões sem razão, todos os desejos sem recíproca, todas as cores do universo. Não, mas nem fodendo. As brigas, os momentos de raiva, o medo, desespero, a vontade de fugir, enfim, todos os desequilíbrios da mente não vem com um pequenino, um simples, um maldito manual de instruções. E e
SO FAR AWAY... (COMO UMA CANÇÃO) Seus olhos parecem duas grandes bolas verdes de cristal. Lindos. Coloridos como poucas coisas podem ser. E é estranho perceber toda a aflição que inunda estes dois olhos grandes, coloridos, lindos. É amor. Amor distante. Amor que ela sente por alguém que está fora do alcance das suas mãos, fora do alcance do seu toque, fora do alcance da sua visão, fora do alcance do seu corpo. Ela quer sentir o seu cheiro, o seu perfume, quer tocar seu cabelo, seu corpo, seu rosto, quer olhar por horas e horas e horas o seu rosto infantil, lindo, sutil, perfeito. Ela quer poder abraçá-lo com força, com muita força, abraçá-lo de forma que ele perceba o quanto ela quer ele dentro do seu corpo, da sua alma, da sua mente, do seu coração. É amor. Seus olhos vivos e coloridos, que parecem duas grandes bolas verdes de cristal, expressam toda essa ausência que corrói. Todo medo e a vontade insana de rasgar o mapa para unir os seus dois destinos. Tudo o que ela quer, é tê-lo po
APENAS UMA TRANSMISSÃO DE RÁDIO... E agora, vinte e duas horas e treze minutos. Com vocês, Losing My Religion Oh, life is bigger It's bigger than you And you are not me Ele acendeu um cigarro antes de abrir o velho álbum de fotos repleto de retratos deles. Malditos retratos de momentos felizes. The lengths that I will go to The distance in your eyes Oh no I've said too much I set it up. Ela não resistiu e abriu mais um botão da sua camisa, desligou o rádio, deu uma última olhada no espelho e desceu as escadas correndo, apenas porque ele já estava esperando e ela mal podia esperar para sentí-lo. That's me in the corner Assim que percebeu que música era, ele mudou a estação do rádio do carro. That's me in the spotlight Eles deram o seu primeiro beijo, cheio de dedos, tensão e vontade Losing my religion Trying to keep up with you Ela atendeu o telefone, esperando que fosse ele. And I don't know if I can do it Ele ligou e lamentou, pois estava ocupado. Oh no I've sa
O PRÓXIMO, POR FAVOR... - Por que você não se leva a sério? - ela perguntou direta, tentando entendê-lo, ao menos uma vez. Ele permaneceu onde estava, deitado no sofá e esforçando-se para continuar quieto. Não queria todo aquele peso. Não aquela noite. Ela suspirou com força, querendo deixar claro o quão puta estava com ele e insistiu - Será que é tão difícil responder? É tão difícil para você se respeitar? Ele jogou o Marlboro dentro da lata vazia de cerveja e a arremessou na parede suja do seu quarto. Pulou do sofá com muita raiva e disparou, com o saco cheio. Muito cheio - Porque eu preciso não me levar a sério, sabe? Eu preciso não me levar a sério. É a única forma de eu entender a razão de tudo isso que está acontecendo entre a gente. Eu preciso ser insano, pois, do contrário, vou ficar igual a você. Com estas suas neuroses, medos, paranóias, com todo este seu ressentimento e dor e culpa. Com essa sua "normalidade" demente. Uma garota mimada que não sabe ser feliz, pois
NADA O que você faz quando as luzes apagam? O que você simplesmente faz, quando as malditas luzes da cidade apagam e suas únicas companhias são os cigarros amassados e as memórias dos seus amores perdidos e fodidos? O que você faz? Ela dança (e com medo de enfrentar o espelho) E ele chora (e com medo de que as luzes voltem... muito medo) Eu? Eu apenas escrevo, até que a noite termine e meu coração volte a bater
HEY DJ (para quem não leu no VENUS IN FURS ) Os olhares cruzavam a pista de dança. Atmosfera impregnada de aromas, cheiros e odores. Bebidas, cigarros, perfumes, néon, fumaça, enfim, o aroma de todas as coisas preenchia o ambiente. Uma camada densa e espessa de pura rebeldia e diversão. E entre luzes e cores e incensos, os instintos acordavam espertos. Bastante espertos. E os olhares que antes apenas cruzavam a pista de dança, agora intimavam. Inevitáveis. Olhares fortes, carregados de volúpia, desejo e vontade. - Posso escolher uma música, señorita DJ? – pediu, caricata, a garota linda e de cabelos claros que se aproximou da cabine escura escondida no fundo da pista. A moça que comandava os vinis olhou curiosa, com seus pequenos e lindos e escuros olhos orientais. Emendou, descuidada – Desde que eu conheça, “señorita”, claro que pode - sorriu. A garota linda de cabelos claros retribuiu o sorriso, primeiro de forma infantil, quase pura, para logo em seguida tornar-se uma adolescente
Os textos abaixo foram escritos para duas pessoas especiais. Duas pessoas que são realmente especiais, sem precisar fazer nada em troca. E eu estava devendo estes textos. Há tempos. Só isso a dizer. Espero que gostem... (vocês e elas...)
PARA ISA SUPERMAN (Cinerama) “But you want something that I just can't provide I'm not a super hero; I just can't find a cloak and change That sounds more like a job for Superman Not the lazy slob that you think I am” Ela gostava de ficar naquela posição. Deitada de costas, apenas respirando e olhando para o teto do seu quarto amarelo, cheio de folhas com desenhos espalhadas pelo chão. Desenhos feitos à mão. Desenhos feitos de sonhos. Desenhos feitos de desejos. Desenhos feitos por seus dedos finos e deliciosos, que simplesmente adoravam o cheiro do nanquim e as manchas que a tinta deixava. Manchas. Marcas. Manchas. Marcas. E se sua vida tinha alguma espécie de marca ou de mancha, era apenas as manchas de suas vontades e de suas pirações. E as paredes amarelas transformavam-se em pequenos caleidoscópios multicoloridos, como um esboço de algum quadrinista sessentista, hippie gordo, entupido de substâncias lisérgicas. Um quadrinista velho, barbudo, cheio de rugas e cicatrizes
APENAS UM MOMENTO TOLO (E APAIXONADO) - Sabe o que quero? – ele perguntou, enquanto olhava bem para ela. - Não – ela respondeu, irônica. - Seus beijos e tudo mais – ele disparou, direto. Ela sorriu o mais doce dos sorrisos e abriu seus braços, devagar, como o encorajando a beijá-la por horas e horas e horas. E ele assim o fez. Aproximou-se com desejo e vontade e paixão e beijou aquela garota com toda a saliva e amor do mundo. E enquanto a beijava, suas mãos percorreram cada milímetro dos seus cabelos, do seu rosto, do seu corpo. E ele a beijou com vida, como se aquele momento fosse um dos mais importantes do mundo para ele. E não era? Claro que sim. Claro que era. A grande confirmação do amor para ele. A grande constatação do amor para ela. E a vida é tão melhor quando se ama assim... como dois adolescentes... Não concordam???
E QUEM DISSE QUE AS COISAS NÃO PODEM SER ASSIM? APENAS SIMPLES... - Pára! Ela ouviu a frase e virou a cabeça rapidamente. Queria saber de quem era aquela voz doce e suave, porém firme e ligeira, que havia dito a tal palavra para ela. - Pára! Assim – ele repetiu. Ela encarou o dono da voz com uma certa irritação. Apenas para disfarçar. Ele era lindo. Olhos escuros, cabelos pretos longos, um queixo quase barbado, regular e quadrado, e um sorriso sensacional. Estimulante. Aparentemente sincero e interessante. Ela apenas o encarou em silêncio, agora sem qualquer irritação disfarçada. Ele sorriu simpático, querendo quebrar o gelo – A posição do seu rosto daria uma foto. Um retrato lindo, sabe? Por isso pedi, quer dizer, quase mandei, né? Você ficar parada. Queria congelar o momento. Ela segurou um sorriso, apenas para querer parecer ser um pouco mais teimosa. Um pouco mais difícil. Ele ofereceu uma bebida. - Não sei o que está bebendo – ela disse – Como posso aceitar? Ele continuou com o co
AZULEJOS LÍQUIDOS One pill makes you larger And one pill makes you small, And the ones that mother gives you Don't do anything at all. (white rabbit - jefferson airplane - 1967) Aquele lugar parecia uma cozinha antiga, anos cinqüenta. As paredes eram forradas de azulejos brancos. Inteiramente forradas. Do teto ao chão. Ele parecia não acreditar. Seus sentidos estavam atormentados, inchados, cansados, tontos. O suor escorria pela testa em gotas gordas, cheias de desejos. O único cenário imutável era o composto pelos azulejos. Seu corpo derretia em cascatas coloridas. Sua pele parecia querer esconder as marcas. Todas as marcas de cortes, provocadas nos momentos de dor. Não havia cor nas paredes azulejadas. A cor estava no seu corpo. Cores desbotadas, cores vivas, cores mortas. Ele queria correr para algum lugar longe dali. Algum lugar muito longe daquele espetáculo de caos e desordem. Nada estava no lugar. Mas, porra, não havia nada para estar arrumado. Ele estava só, nu, no meio de
SURPRESAS INDESEJÁVEIS Nada pode ser tão simples assim. Nada. Nada pode ser tão simples e tão fácil. A vida não é fácil, mas nem fodendo. Quem diz isso ou está com febre ou drogado ou bêbado ou é apenas imbecil. A vida não é, simplesmente, como nós a imaginamos. Digo sobre a vida que desejamos ter. A vida que imaginamos querer. A fumaça que escorre entre os dedos é a fumaça das horas, dos minutos e dos segundos que passam, cruéis, enquanto aguardamos a porra do fim. Os letreiros finais. O começo dos créditos. A trilha sonora. Não importa quantos cigarros ou quantos beijos ou quantos gozos ou quantos copos. Simplesmente não importa. A vida não é, definitivamente, como nós imaginamos. Caralho, dependemos de outros, não só de nós. E é aí que tudo fode. É aí que tudo vai para o espaço. A vida poderia ser um jogo virtual, uma espécie de Pac-Man do avesso, sob nosso total controle. Apenas diversão. Just for fun. Mas a cama em que ela acorda não é cama em que ela quer acordar. A bebida que el
DEAD FLOWERS - O que não te deixa envelhecer por completo é a música. Música. A única coisa que, talvez, você ame de verdade. A única coisa que, talvez, você respeite de modo sincero. A única coisa que, talvez, você queira por perto. De resto, porra, de resto, você é um idiota insensível. Uma flor morta. Entende? Sem brilho, sem cor, sem perfume, sem vida, sem nada, enfim, apenas uma flor morta. Um playback insano e constante e repetitivo. Insuportável. Verdadeiramente insuportável. As palavras doíam em sua cabeça. Muito. Soavam como um martelo pesado e enferrujado. Tenso. Cada tônica parecia querer perfurar a sua tez até fazer o sangue jorrar e jorrar e jorrar. E a noite já estava morrendo. O sol insistia em querer nascer. Em querer atormentar aqueles que se alimentam (se escondem?) da escuridão, do silêncio, do vazio, da deliciosa ausência de pessoas e convívios. As palavras não deixavam a sua cabeça. Ele apenas olhava através da janela a noite morrer. Um bando de idiotas e azarados
GUARDANAPOS E QUEBRA-CABEÇAS - Tudo parece tão irreal, você não acha? – ela perguntou a ele, enquanto brincava com os dedos e uma caneta no seu guardanapo, todo sujo de batom. - Como assim? – ele questionou, sem saber se não estava entendendo a pergunta por causa do sono, por causa das altas doses de tequila ingeridas ou, simplesmente, porque não fazia a menor questão de entendê-la. - Parece papo de adolescente babaca, carente, mas é apenas irreal. É estranha esta falta do que ter a dizer para você. Mesmo depois de todo este tempo. Ele continuou sem entender, mas, no fundo, já sabia o que ela estava tentando dizer. - Anos e anos e anos que estamos juntos... - ... que anos e anos? Estamos juntos há dois anos apenas, não? – ele interrompeu sem a menor sensibilidade e cerimônia. Ela respirou fundo, irritadíssima e entediada, e continuou, ignorando o comentário inoportuno que ele havia feito - ... anos e anos e anos que estamos juntos e parecemos tão distantes. Cada dia mais. Cada maldito
ÁLBUNS DE FOTOGRAFIAS E RUAS ERRADAS - Não acredito! - ele disse, verdadeiramente surpreso, meio alegre, meio constrangido. Ela olhou-o como se mal pudesse acreditar que fosse ele. Viu primeiro um fantasma do passado, um espectro, assombração. Um sonho. Um pesadelo. Ela disfarçou e apenas sorriu. - Estela? Estela? Ah, não creio. Quantos anos menina... - ele relembrou, aproximando-se para lhe dar um abraço carinhoso. - Oi Edu. Muito tempo, né? - ela respondeu com a pergunta, permitindo o abraço e sentindo o calor daquele corpo tão estranho, tão conhecido. Ele concordou com a cabeça - Mais tempo do que jamais pensamos que fosse nos separar. Muito mais tempo mesmo - ele afirmou, deixando a tristeza escapar, breve, por entre os dentes, por entre as vogais. - Como você está? - ela perguntou, agora interessada, sincera. Ele pensou antes de responder. Não muito, mas pensou sim - Bem. Estou bem - disse. - Dá para ver - ela concordou - Não parece tão detonado - sorriu - Ainda é um belo homem -
E QUEM QUER SER AUDREY HEPBURN? - A "minha" Audrey Hepburn - ele disse a ela com um sorriso, enquanto saíam do cinema e momentos antes de beijarem-se com amor. Muito amor. ... E, tempos depois, em uma noite qualquer, o mais assustador não era o escuro do céu, nem a chuva que desabava pesada e cheia de raiva e cheia de risos, e nem tampouco os trovões que explodiam de minutos em minutos em um brilho de luz negra sinistro, sádico, ilustrativo de todo o seu poder devastador. E o mais assustador naquela noite qualquer de chuva e tempestade, não era os pobres diabos mortais que vagavam de bar em bar, de corpo em corpo, de cigarro em cigarro, de batom em batom, de banheiro em banheiro, de latrina em latrina, durante toda a madrugada, apenas buscando um refúgio sobressalente e adicional à vida. O mais assustador naquilo tudo, naquele quadro de madrugada barata, de madrugada perversa, de madrugada perdida, naquele cenário de vazio e desespero e medo e solidão, era que ela estava pouc
DESEQUILÍBRIO OU DESENCONTRO? Talvez o que ela mais queira é apenas um pouco de paz, tranqülidade, carinho e amor. É pedir muito? Talvez o que ele mais queira é apenas um pouco de paz, tranqüilidade, carinho e amor. É pedir muito? Talvez eles precisem apenas se encontrar em uma esquina, em um bar, boteco, em uma balada, em uma noite, em um encontro. Ao acaso, uma brincadeira do amor. E este momento pode acontecer a qualquer momento. Agora, daqui a pouco, daqui a duas horas, dois dias, dois anos. E tenham certeza que é pedir muito, nesta hora, para que eles percebam. Que eles percebam o seu momento ideal. Pedir muito? É, mas não custa sonhar...
blog novo... eu e a querida lalyil estamos escrevendo nossos contos em outro endereço... aqui: no VENUS IN FURS fetiches, desejos, sonhos, enfim, coisas boas... espero que gostem... MAS O VARSÓVIA CONTINUA AQUI... (pelo menos por enquanto hehehehe)
CANÇÃO DO AMOR ADOLESCENTE - Faz uma canção de amor para mim? - ela pediu, enquanto ele brincava com o piano. Ele sorriu apenas com o olhar - ele adorava fazer isso - e ficou em silêncio. - Faz? - ela insistiu, sentando ao seu lado no banquinho ruivo do piano. Ele desviou o olhar daquela garota linda sentada ao seu lado e encarou o instrumento à sua frente. Começou a dedilhar alguns acordes, a brincar com as teclas. Brancas, pretas, pretas, brancas, todas as teclas do piano. Seus dedos finos, suaves, firmes e marcantes iam e vinham, como num toque de seda. Ele interrompeu a brincadeira, antes que o conjunto virasse canção. Ela olhou para ele meio surpresa, meio divertida - Estava lindo. Não quer? - perguntou, alisando os cabelos longos e pretos dele. - A canção já está feita - ele respondeu - Basta olhar para nós neste exato momento. Não é uma bela canção de amor? Um puta beijo foi o grande acorde final...
COMEÇO DE FESTA Ela estava feliz. Toda feliz. Exceto ela e sua tequila, não havia mais ninguém na pista do Clube Varsóvia. Nenhum cliente, apenas os garçons que arrumavam, lentamente, o ambiente. Ela estava feliz. Toda feliz. O sol ameaçava nascer por entre as frestas da janela, mas ela nem pensava em ir para casa. Era apenas sorriso. - Gostou da festa, querida? - perguntou Justo, um moreno alto, forte, antigo garçom do Varsóvia e seu amigo de longa data - Foi um dos melhores aniversários do Varsóvia. Ela sorriu grande, mostrando os dentes perfeitos sem nem tentar esconder toda a sua felicidade. - Fico muito contente - emendou Justo - Você merece. Foi um sucesso a noite. Foi um sucesso. Pena que já acabou. Ela fez um sinal negativo com a cabeça, enquanto virava o último gole da tequila - Não Justo, de forma alguma, está tudo apenas começando. Tudo começando. Ele sorriu e disse, verdadeiramente feliz e moleque - É mesmo. Eu bem vi vocês dois juntinhos, juntinhos. Ela deu uma
HOUDINI FAZIA IOGA Suas unhas longas e bordadas com esmalte preto pareciam querer rasgar o velho colchão de molas do Hotel Varsóvia, tão forte e descontrolada era a pressão que ela exercia sobre o lençol com os seus dedos longos, finos e bonitos, sempre cheirando a cigarro mentolado. Seus cabelos de cor girassol estavam invertidos, em negativo, bagunçados, amassados e completamente ensopados de tanto suor, de tanto tesão, de tanta saliva. Os lábios daquele garoto eram infernais. Feitos para o pecado, feitos para o paraíso. Simples assim. Grossos, carnudos, pálidos, os lábios dele percorriam sem pressa cada centímetro do seu corpo, da sua esquina, da sua pele, das suas dobras, do seu sabor, do seu gosto. Os lábios daquele garoto exploravam e exploravam e exploravam cada detalhe das suas entranhas, da sua carne, dos seus pontos. Cada detalhe do seu corpo. Corpo aberto, explorado, indefeso e molhado. Ele sorvia cada gota de tesão escapava por entre as suas pernas, cada gota de amor qu
DAVID BOWIE EM OPOSTOS ÓPERA ROCK - Alô? – ele perguntou, impaciente. Do outro lado, apenas silêncio. - Alô, porra. Quem é? Isa? É você? – ele agora gritou, com a paciência toda para lá de Saturno. Do outro lado, apenas nada. - Preciso repetir? Preciso dizer todas aquelas coisas que nos machucam de novo? Preciso mesmo? Preciso, puta que o pariu? Por quê raios você insiste em me atormentar? Por quê? Por quê? Já não fizemos o suficiente um ao outro? Do outro lado, apenas dor. Ele calou a maldita boca e ficou em silêncio, apenas segurando o telefone e ouvindo a respiração dela, a respiração tão angustiada e fodidamente familiar. Do outro lado, um murmúrio – Você ia acreditar se eu dissesse que quero tentar? Somente tentar? Como resposta um grito, um murro imbecil na parede e um quadro quebrado – Voltar? Voltar? VOLTAR? – ele urrou – Como assim, simplesmente voltar? Do outro lado, apenas angústia e arrependimento. - Você sabe tudo o que aconteceu entre
CARTÕES POSTAIS EM BRANCO - Você nunca sabe? – ela perguntou, aflita. Ele a olhou como se o melhor fosse não dar resposta. Nenhuma resposta. Ficou em silêncio. - Não? Nunca sabe? Responde caralho. Nunca sabe porra nenhuma? É isto? Ou é apenas um garoto amedrontado e cheio de frescuras, cheio de medos, cheio de dedos, que não gosta de se arriscar? – ela disse firme, fazendo uma força tremenda para não gritar e chamar toda a atenção do Clube Varsóvia para eles. - Eu não sei o que devo dizer – ele arriscou, sabendo que estava jogando fora os seus últimos argumentos e as suas últimas chances. Ela sorriu com ironia, com desprezo, com raiva – Não posso acreditar, sabe? Não mesmo. Não sabe o que dizer? Neste momento? Ele assentiu com a cabeça, enquanto virava o resto da cerveja quente que sobrou em seu copo. - Que tal dizer a verdade? – ela sugeriu – Que tal dizer a verdade ao menos uma vez. Ele a encarou, agora furioso, praticamente fora de controle - O que muda? – perguntou – O
NADA DEMAIS PARA A CIDADE DEBAIXO DELE E de todas as coisas boas dos sonhos e de todos os seus desejos escondidos, o que ele mais desejava naquela noite era sentir, ainda mais uma vez, o perfume suave dela. O suave e gentil perfume grafite que exalava do seu pescoço fino e magro, porém delicioso, que ele adorava morder e mordiscar. E de todas as coisas boas dos sonhos e de todos os seus desejos escondidos, o que ele mais desejava naquela noite era sentir, ainda mais uma vez, o perfume suave do seu corpo todo. Corpo lindo, corpo lindo, que ele adorava beijar, arranhar, gozar, gemer. O corpo com o qual ele adorava trepar e fazer amor. O corpo da sua maior e mais devastadora e mais verdadeira paixão. Paixão para poucos. E naquele apartamento velho, sentado sobre o chão de madeira podre cheirando a memórias inexpressivas de fantasmas já enterrados, tudo o que ele podia fazer era observar, através da sua janela, a paixão dos outros, a paixão da cidade. As luzes, os carros, os anseio
O SILÊNCIO É UMA PORTA TRANCADA Você vai ficar aí, parada? - ele pensou, ansioso. Ela olhava fixo para o céu, como uma criança, aonde explosões barulhentas e constantes geravam luzes coloridas, deliciosas, psicodélicas, alegres, inconstantes. E você vai ficar aí, apenas parada? - ele pensou novamente, olhando para ela e não para o céu colorido de reveillon. Ela sorria sozinha, feliz e feliz pela bebida e pela excitação e ele apenas a encarava. Até que finalmente ela parou e o olhou com muito carinho e deu um dos abraços mais quentes que ele jamais havia experimentado - Feliz ano novo, meu querido e melhor amigo. Ele chorou. Não pela declaração, mas por perceber que jamais falaria as palavras certas. Não as que ela queria escutar, mas as que ele sonhava em dizer. Somente sonhava em dizer.