Pular para o conteúdo principal
DEPRESSA, DEPRESSA

Ela estava tão entretida, pedalando a sua bicicleta amarela, e também, distraída e distante e longe com os seus pensamentos e com os seus delírios habituais, que sequer teve como perceber o céu se tornar repleto de nuvens. Nuvens pesadas, de cor grafite, cinzas, distorcidas, lentas e prontas para desabar. Prontas para derramar toda a dor dos anjos.

Ela estava tão entretida na sua própria tristeza.

Quando as primeiras gotas começaram a cair sobre os seus longos cabelos ruivos, só então ela percebeu a tempestade.

Inútil, pois já estava completamente ensopada, ela procurou um abrigo. A cidade estava deserta, como em uma espécie de delírio psicotrópico e, portanto, não foi difícil se ajeitar sob uma velha cabine telefônica, no melhor estilo Audrey Hepburn.

Ela sorriu da própria ironia. Parada em frente a um telefone, sem ter para onde ir, sem ter para quem ligar. Pensou nele com muita tristeza. Sabia o número de cor. Sabia o maldito número de cor e salteado. Olhou para o céu negro como a noite e sentiu as gotas enormes da chuva desabarem em seus olhos pretos e lindos “agora não são mais lágrimas, é apenas chuva” – pensou, confusa no seu próprio medo.

Decidiu que não faria a ligação. De maneira alguma. Ele não teria mais a sua submissão. “amar e perdoar tanto assim é ser submissa?” – ela pensou, inquieta.

Subiu em sua bicicleta rapidamente e decidiu sair daquela cabine telefônica o mais depressa possível. Não queria pensar e nem tomar mais decisões na sua vida e tampouco chorar por quem não a queria (não?).

Correu o mais depressa que pôde com a sua bicicleta, enquanto chorava como nunca jamais chorou.

Por mais depressa que fosse, ela não conseguia ser mais rápida do que a tempestade.

E algum maldito consegue ser?


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,