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LUAS VERMELHAS

O quarto estava escuro. Escuro demais. Havia apenas um resto de vela, mas que, de tão pequeno, sequer era capaz de produzir uma centelha de luz decente. O quarto estava escuro. Tanto melhor – ela pensou – Assim, não preciso ver esse rosto triste, borrado, sujo, marcado. Assim não preciso ver minhas próprias lágrimas e minha própria incerteza, cruelmente estampada no meu rosto. Ela estava triste. Triste como nunca havia estado antes. Triste como ninguém jamais poderia imaginar. Triste como o mar sereno. Triste como um palhaço sem graça. O quarto estava escuro. Pelas paredes, as baratas fugiam do cheiro insuportável daquele incenso vagabundo. Tanto melhor – ela pensou – Assim, não preciso ver a que ponto cheguei, de que altura despenquei. Não preciso pensar no rascunho que me tornei. Não, caralho, não um rascunho, mas a própria fotografia de uma pessoa triste, sem vida. Uma pessoa só, sem objetivos, sem vontade, sem esperança, sem porra nenhuma. Uma pessoa com dor. Apenas com muita dor e pouca vontade de suportá-la. E ela chorava ainda mais quando pensava sobre isso. Poucas pessoas suportam a tristeza. Quase nenhuma suporta a dos outros.

A não ser em dias especiais. Em dias de eclipse. Em dias de luas vermelhas...de sangue, lágrimas, dor e fotos rasgadas...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,