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Mostrando postagens de novembro, 2003
EM UM DIA COMO ESSE QUEM É (FOI) MAIS COVARDE? O dia estava cinza. A areia da praia parecia uma película antiga. Uma película antiga e mal cuidada de um filme antigo. Antigo, porém lindo. Um filme de Audrey Hepburn. Um filme de Bette Davis. Um filme de Hayworth. Enfim, um caleidoscópio estrelado por alguma musa hollywoodiana dos anos trinta, quarenta, cinqüenta, no máximo. Foda-se – ela pensou. O dia estava cinza e a areia, fria. Por um instante, ela percebeu que chumbo seria uma boa cor para preencher o seu coração. Chumbo. Cor forte, porém sem vida. Cor marcante, porém sem cor. Cor cinza, porém chumbo. Pesada. Perfeita para rimar com a palavra amor, em um verso cafona de alguma canção cafona, de péssimo gosto. O mar estava bravo. A garoa, fina e fria. As gotículas que despencavam do céu pareciam açoitar o seu corpo da cabeça aos pés. Dos seus cabelos levemente vermelhos até as unhas indiscretamente pintadas de preto. Cor da noite. Parente próxima do chumbo. Ela obser
APENAS O CAOS Cansado, cansado e cansado...apenas isso. Não desistam de mim, por favor... rs Tenho esperança de que o final de semana será ótimo.
ACREDITANDO / DESACREDITANDO - Você acredita mesmo nisso? – ele perguntou, incrédulo. - Claro. Você pensa que sou apenas uma idiota indecisa e que não sabe o que quer e o que precisa da vida? – ela respondeu, chorando. Ele a olhou como ela fosse, definitivamente, uma idiota, mas disse o contrário – Você não é idiota. É apenas uma garotinha mimada e perdida e assustada e que pensa que a vida de todos gira ao seu redor. Ao redor do seu maldito umbigo Ela o encarou com muita raiva, quase ódio e cuspiu cerrando os dentes – É curioso isso, não? – emendou. - O quê? – ele perguntou, ainda mais incrédulo diante de todo aquele diálogo. - Como eu pude te amar tanto... Ele riu, interrompendo-a com deboche e irritação. ...e agora nem consigo te odiar. Apenas te desprezo – ela desferiu, de um modo sincero. Cruel. O sorriso apenas sumiu do seu rosto. Ele a encarou, em silêncio enquanto escutava ela repetir - ...e agora apenas te desprezo. Ela saiu do quarto. E ele chorou.
AFOGADO (...TEIMOU EM NÃO APRENDER A NADAR) Chega de me açoitar com a sua frieza, com o seu olhar de falso anjo. Chega de me fazer sofrer, de me fazer chorar, de me fazer gritar. Chega de me causar tanta dor. Eu não quero isso. Eu não preciso disso. Por favor, pare. Pare de atormentar com os seus dramas, os seus fantasmas, as suas lamentações, os seus sonhos perdidos e frustrados e mal planejados. Pare com tudo isso. Eu sou apenas uma pessoa comum. Um idiota. Um idiota e um tremendo de um babaca. Idiota? Porque ainda acredito em amores perdidos e lenços sujos de batom e velhas poesias de amor e desespero. Babaca? Porque ainda acredito em lágrimas e boleros e tangos. E tudo isso mesmo sendo um grande surdo, mesmo sendo um grande cego. Mesmo sendo apaixonado, talvez a melhor definição de tudo isso. Mas, como eu ia dizendo, chega de me açoitar com a sua indiferença. Chega de me fazer perder noites de sono e dias de paz. Chega de congestionar minhas veias com esse sangue en
SUAVE É A NOITE - Sabe o que eu mais queria, nesta noite? – ela perguntou, animada, enquanto observavam o céu cheio de estrelas brilhantes. - O quê? – ele respondeu. - O que eu mais queria era ser uma espécie de astronauta lunática, para poder brincar de esconde-esconde nas estrelas. Ele sorriu e disse, carinhoso – Romântica, hein? Esconde-esconde nas estrelas... nunca pensei nisso. - Mas seria ótimo não? – ela disse sorrindo. - Sabe o que eu mais queria, nesta noite? – ele retrucou, com receio. - Adoraria saber – ela completou. Ele olhou fixamente para as estrelas e nada disse. - Então – ela insistiu. - Nada. Não queria nada além do que já tenho. - E posso saber o que você tem de tão importante assim? - Você fala demais, sabia? – ele brincou, para depois beijá-la carinhosa e devastadoramente, dispensando palavras. Apenas dispensando palavras.
PELO RESTO DOS SEUS DIAS " Pelo resto dos seus dias, você vai ter que conviver com a incerteza de não ter experimentado. Pelo resto dos seus dias, você vai ter que conviver com a lembrança de seus medos, desesperos, inseguranças. Pelo resto dos seus dias, você vai ter o azar de perceber, em algum momento, que eles foram longos, longos demais. Pelo resto dos seus dias, você vai temer a noite apenas por não querer sonhar. Pelo resto dos seus dias, você vai querer fugir. A cada dia, a cada minuto, a cada segundo. Enquanto houver sol e lua, você vai pensar no que não fez, no que deixou para trás por medo, por puro medo e pura besteira. Pelo resto dos seus dias, esse seu medo vai se tornar pavor e o pavor vai ser tornar fobia. Pelo resto dos seus dias, você vai perceber que a fobia da vida não tem cura. Pelo resto dos seus dias, você vai desejar ter começado tudo de novo. Pelo resto dos seus dias, você vai chorar em silêncio. No último deles, você vai perceber tudo isso. Tenho
LUAS VERMELHAS O quarto estava escuro. Escuro demais. Havia apenas um resto de vela, mas que, de tão pequeno, sequer era capaz de produzir uma centelha de luz decente. O quarto estava escuro. Tanto melhor – ela pensou – Assim, não preciso ver esse rosto triste, borrado, sujo, marcado. Assim não preciso ver minhas próprias lágrimas e minha própria incerteza, cruelmente estampada no meu rosto . Ela estava triste. Triste como nunca havia estado antes. Triste como ninguém jamais poderia imaginar. Triste como o mar sereno. Triste como um palhaço sem graça. O quarto estava escuro. Pelas paredes, as baratas fugiam do cheiro insuportável daquele incenso vagabundo. Tanto melhor – ela pensou – Assim, não preciso ver a que ponto cheguei, de que altura despenquei. Não preciso pensar no rascunho que me tornei. Não, caralho, não um rascunho, mas a própria fotografia de uma pessoa triste, sem vida. Uma pessoa só, sem objetivos, sem vontade, sem esperança, sem porra nenhuma. Uma pessoa com dor.
AQUELE FOI O FIM - Não há nada que eu possa fazer? – ele perguntou, ansioso. Ela o encarou de uma forma desafiadora e respondeu, seca – Sim. Há algo que você pode fazer. Ele apenas fez um gesto com a cabeça, esperando o que ela tinha a dizer. - Sumir da minha vida. Pelo resto dos seus dias. E aquele foi o fim.
APENAS UM DIÁLOGO - É tudo tão triste e sórdido - ela disse. - O mundo é assim. As coisas são assim. As pessoas, caralho, são assim - ele respondeu, lacônico e um tanto amedrontado. Ela o encarou de um modo desafiador, sutil, irônico, nervoso, irado - Mas você não deveria ser. Você não deveria ser assim. Ele abaixou a cabeça, fugindo do seu olhar devastador e sussurou - Mas sou. Sou exatamente assim. Triste e sórdido. - E idiota - ela acrescentou - E um tremendo idiota. E ele apenas chorou...como se isso pudesse mudar algo na sua vida...como se isso pudesse mudar algo