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THE KILLING JOKE

- Hahahaha – ele gargalhava enquanto tentava acender um cigarro naquela velha mesa de bar no centro da cidade – Você lembra da “Piada Mortal”? – continuou, quase sem ar.
Ela respirou, franziu a testa, pensou um pouco, virou mais um gole de vodka e respondeu – Tem a ver com o Batman, né?
- Exatamente Estela, tem a ver com o Batman – ele sorriu – A “Piada Mortal” foi uma história em quadrinhos que ficou bem famosa nos anos oitenta.
- Tá, e?
- Tudo gira em torno das contradições entre o Batman e o Coringa e conflitos internos e o caralho, mas isso não importa agora. O que importa é que, no final da história, o Coringa vira para o Batman, quase chorando – ele havia sido derrotado mais uma vez - e diz: “Batman, você conhece a piada da lanterna?” – O homem-morcego responde, seco “Não”. O Coringa então prossegue: “Em um hospício, um dos internos foi até a sala do médico chefe e disse - Doutor, os demais pacientes querem fugir daqui. O médico o observou atento e perguntou - Como? Eles querem fugir? O interno, então, olhou em sua direção e respondeu, sereno e em tom de quase segredo – Sim, eles querem fugir. Um deles conseguiu uma lanterna. Ele vai acendê-la no topo do edifício aqui do manicômio e todos os que quiserem fugir vão se equilibrar pelo fio de luz produzido pela lanterna, até chegar ao topo do prédio vizinho. Eles são loucos, não são? O médico, ainda mais atento, perguntou – E por que você não vai fugir com eles? Por que eles são loucos? O interno olhou atentamente nos olhos do médico e respondeu, desconfiado – Exato. E se eles apagarem a lanterna enquanto eu estiver atravessando para o outro lado?”.

...e se eles apagarem a lanterna enquanto eu estiver atravessando para o outro lado...

E assim, rindo pelas piadas e pelas vodkas e pela noite, ela chegou no seu pequeno apartamento. Ele estava tão bêbado quanto ela. Não subiu. Melhor assim – ela pensou – Dois bêbados em um único ambiente significa muita, mas muita confusão. E entre seus pensamentos, ela deixou as chaves e os cigarros jogados em qualquer lugar perto do som e tentou chegar ao seu quarto. Estava mal. Estava tropeçando. Não conseguia manter os olhos fixos em nada. Estava completamente bêbada. Completamente alterada pela vodka. Seu quarto mais parecia um caleidoscópio pervertido. Cheio de cores, luzes e pensamentos estranhos. De repente, tudo pareceu parar de girar. Seus olhos vermelhos encontraram sobre a cama desarrumada, o retrato que ela havia revelado no trabalho antes de ir para o bar. O primeiro retrato que ela havia tirado dele. Com ele. Sua cabeça pareceu desistir de rodar. A vodka foi direto para o espaço. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela quis gritar de felicidade. Depois de tantas porradas, finalmente havia encontrado o seu feixe de luz. E não importa quão louca ela podia ser, não seria ela, por certo, que o apagaria. Depois de todo esse tempo, ela só queria ser feliz. E louca, se assim necessário fosse...



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,