RECONQUISTA
Talvez esteja tudo sob controle – ele pensou, tenso, enquanto tomava um gole de vodka - Mas talvez não. Talvez eu tenha me atrapalhado, me precipitado, feito um julgamento totalmente errado do que eu era ou não capaz de fazer – continuou, enquanto andava pela sala, em círculos, segurando o copo de vodka – Caralho, será que ninguém pode explicar como agir, como fazer as coisas direitas, ao menos uma vez nessa droga de vida. Será que eu nunca vou acertar uma? Uma só? – ele prosseguiu, quase chegando ao desespero. Até que o interfone tocou. Ele correu para a cozinha e atendeu rápido, quase gritando e ofegante:
– Quem é?
- Oi Sr. Marcelo. Correndo? – perguntou o porteiro, velho conhecido dele.
- Quem é?
- A Dona Vanessa. Ela pode subir?
- Pode. Claro.
- Ótimo.
Assim que desligou o interfone, ele deixou de lado o copo de vodka. Correu em direção ao espelho para dar uma última ajeitada nos poucos cabelos. Respirou fundo e pensou, com esperança e com os olhos quase cobertos de lágrimas – Preciso reconquistá-la, preciso reconquistá-la, por mais difícil que seja pedir desculpas do alto dos meus sessenta e poucos anos...
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