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IF YOU ARE LONELY YOU CAN TALK TO ME

- Tudo bem? – ela disse logo após ter percebido o seu “alô” fraco, triste e preocupante ao telefone.
Após breves momentos de silêncio, ele respondeu - Não deveria estar tudo bem? Não entendo a sua pergunta.
Ela respirou profundamente e disse, com a voz ligeira, com a voz irritada, com a voz mais protetora do mundo – Porra João, mas você é um filho da puta, sabia? Um idiota. Pára de achar que o mundo conspira contra você e que tudo o que você merece é pena das pessoas. Eu jamais vou te dar toda essa atenção que você quer. Ainda não esqueceu aquela vaca?
- Não me recordo em que parte você entra na história, ou melhor, não sei o que você tem a ver com tudo isso – ele disse, nervoso.
- Eu tenho a ver com isso porque sou sua amiga, porra – ela gritou – Eu tenho a ver com isso porque ainda penso em você e ainda me importo com você, mesmo você fazendo a maior questão de ignorar tudo isso. Quando você vai crescer e perceber que o mundo, definitivamente, não gira ao seu redor. É difícil perceber isso? Ela parou e percebeu o choro abafado dele, cortando o silêncio.
- Desculpe – ele disse, ofegante.
- Relaxa. Me diz, o que vai fazer essa noite? – ela perguntou.
- Noite? Já são quatro horas da madrugada.
- Então? Já ouviu que a noite nunca termina? – ela disse, rindo.
- Vou dormir. Apenas dormir e tentar sonhar um pouco.
- Eu vou sair para dar umas voltas, tomar alguma coisa. Qualquer coisa me liga, por favor? – ela pediu, com a voz doce.
- Pode deixar. Eu ligo sim.
- Bem, vou indo. Amanhã nos falamos.
- Lê? – ele disse.
- Fala.
- Sabe como eu me sinto?
Ela não respondeu
- Me sinto como uma criança com medo. Totalmente machucada. Por isso é difícil dormir no escuro. Somente por isso. Me desculpe.
- If you´re lonely, you can talk to me – ela cantarolou, baixinho, lembrando daquela velha canção dos Beatles.
- O quê? – ele perguntou.
- Nada. Apenas uma canção de ninar. Apenas uma canção de ninar. Durma bem...



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,