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ABSOLUTE BEGGINERS

Ela estava linda.

Não. Ela era linda... essa é a verdade...

Tinha cabelos totalmente pretos e ligeiramente ondulados, que brigavam, de modo violento, com os seus olhos verdes pela atenção de quem a observava. E não eram poucos os que faziam isso. Definitivamente não eram poucos. Ela sempre ia ao Clube Varsóvia e ficava lá, a noite toda, dançando e bebendo e fumando e dançando e bebendo e fumando, numa espécie de misterioso ritual de celebração, numa espécie de misterioso ritual particular. Ritual habitual. Nunca a vi conversar com alguém, apesar de ir quase todos os finais de semana ao Clube. Seus olhos não demonstravam qualquer simpatia ou antipatia em relação a nenhum dos demais freqüentadores do local. Ela apenas ia para se divertir, e deixava bem claro isso. Bem claro.

E assim eram todos os dias. Exceto aquele...

Naquele dia, em especial, ela estava lá, no Clube Varsóvia, linda como sempre. Tinha as unhas pintadas de preto. A maquiagem pesada e borrada com o suor que escorria da sua testa suavemente branca. provocado pela dança insana e interminável que ela sensualmente praticava. Vestia um coturno preto e surrado que contrastava com o vestido de cor rosa choque que estava vestindo, de alça, que deixava à mostra uma pequena tatuagem nas costas de um microfone estilizado aonde podia se ler I Hate Myself and I Wanna Die (“eu me odeio e quero morrer”).

Ela estava linda. Como sempre...

A observei por alguns instantes. Aproveitei para sentar ao seu lado, quando ela foi ao bar pedir uma tequila ao Márcio, histórico barman do Clube Varsóvia.

- Quer um cigarro? – ofereci.
Ela não respondeu, apenas me olhou indiferente e pegou um Marlboro no bolso da sua própria calça.
- Fogo então? – perguntei sorrindo.
- Pode ser – respondeu, inclinando a cabeça para que eu acendesse o seu cigarro.
- Pode parecer a coisa mais estúpida do universo, a coisa mais clichê dos livros de amor, mas eu sempre te vejo por aqui...
- ...e daí? - ela interrompeu.
Totalmente sem graça eu disse - Isso é legal. Apenas mostra que você tem bom gosto.
- Posso te fazer uma pergunta? – ela disse, após virar a tequila e pedir outra ao Márcio.
- Claro.
- Por que você está aqui, perdendo seu tempo comigo?
A olhei rapidamente e respondi – Não creio que eu esteja perdendo tempo. Apenas tentei conversar com você. Há algum problema nisso?
- Se você me conhecesse bem, saberia que pela minha total inaptidão para relacionamentos, sejam eles fraternos ou sexuais ou amorosos, há um grande problema nisso. Há um grande problema que pode nos machucar.
- E você vai me impedir de experimentar esse grande problema?
De repente, por causa da chuva, as luzes do Clube se apagaram e a multidão começou a gritar de excitação até que se acendessem todas as luzes de emergência.
- Vem – ela disse ao meu ouvido – Tenho uma festa para ir. Vem comigo.
- Mas e o nosso problema?
- Ele começa agora, querido – ela disse, finalmente sorrindo para mim. Um sorriso lindo, aliás. Como a introdução de uma bela canção...



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
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